As agressões a alunos estrangeiros em escolas de Portugal tem se tornado cada vez mais constantes. A vítima mais recente é uma brasileira de 14 anos, que foi espancada por uma portuguesa, da mesma idade, na porta da escola onde estuda, em Santarém.
A portuguesa, que é filha de uma brasileira e aluna de outro colégio, esperou a vítima sair das aulas para agredi-la. Primeiro, deu um tapa na cara da brasileira. Depois, jogou a jovem na calçada e desferiu uma sequência de socos nela, que estava imobilizada.
O motivo da briga seria “uma fofoca” sobre a mãe da portuguesa. Ela foi tirar satisfações com a jovem brasileira. Tudo foi filmado pela colega da agressora, que ri da situação o tempo todo.
Toda a sequência de agressões está circulando pelas redes sociais. A mãe da vítima, Lucélia Marília Oliveira, de Fortaleza, soube da violência contra a filha, ocorrida na sexta-feira (23/02), pela televisão, que noticiou o caso.
Situação está ficando grave
Segundo Rita Cássia Silva, antropóloga, pesquisadora e ativista, que tem desenvolvido uma série de estudos sobre violência, racismo, xenofobia e capacitismo nas escolas portuguesas, a situação está saindo do controle
“O que temos observado é que o racismo e a xenofobia ficaram muito mais evidentes depois da pandemia da covid. Estamos diante de um quadro gravíssimo, em que não se vê o Estado tomando as medidas necessárias para conter essa situação”, afirma.
Segundo Rita, o governo diz que há um plano em vigência na escolas contra a violência entre estudantes, mas ninguém sabe, exatamente, o que está sendo feito, de que forma está sendo implantado. “O resultado disso é a loucura que estamos vendo”, frisa
Para a antropóloga, não adianta tomar medidas depois de as agressões ocorrerem. “É preciso prevenir, o que exige um trabalho profundo por parte do Ministério da Educação, com campanhas envolvendo os pais, os professores, os estudantes e todos os funcionários que trabalham nas escolhas. É preciso esclarecimento e conscientização”, recomenda.
Outro ponto importante, no entender de Rita, é a necessidade de mudanças no currículo escolar. As aulas de história, destaca a pesquisadora, continuam difundindo a mentalidade colonialista, o que estimula o racismo e a xenofobia.
Ela destalha ainda que nenhum dos partidos políticos, que estão em campanha para as eleições de 10 de março, se posiciona de forma clara e contundente sobre a violência que tomou conta das escolas em Portugal.
“Nós, pais, estamos desolados, porque as autoridades não conseguem dar uma resposta concreta para transformar as escolas em ambientes em mais acolhedores, de respeito e abertos à diversidade”, complementa Rita.