"Vamos falar do pacotaço de reformas do presidente López Obrador", diz Gerardo Vera diante da câmera de seu celular. Aos 19 anos, ele publica diariamente vídeos no TikTok sobre a política no México, onde a campanha presidencial começa nesta sexta-feira.

Vera tem dois milhões de seguidores, aos quais busca oferecer uma postura "neutra" em seu conteúdo com vistas às eleições de 2 de junho, nas quais vão se enfrentar a candidata governista Claudia Sheinbaum (esquerda), a opositora Xóchitl Gálvez (centro direita) e Jorge Álvarez (centro esquerda).

Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, Inegi, cerca de 99 milhões de mexicanos estão habilitados a votar. Destes, 26 milhões têm entre 18 e 29 anos, e 4,1 milhões vão votar pela primeira vez, entre eles Vera.

"Nós vamos ser o setor que vai definir a votação. Mas acho que vai além disso. Vamos ser o grupo que vai pagar o pato da eleição", comenta este jovem mexicano no pátio da universidade Pan-americana (privada), onde cursa o segundo ano de Direito.

Ele tenta "levar a política às pessoas, democratizar o conhecimento público", resume Gerardo, influenciado pela avó professora, que lhe incutiu "a preocupação social", e o avô advogado, que o introduziu na política desde criança. 

"Sei que nem todos temos tempo de ler um plano eleitoral que muitas vezes é incompreensível. Mas é aqui que convido as pessoas a buscar informação da forma mais clara possível e votar com responsabilidade no projeto que as convença", acrescenta.

Entre os jovens de 18 a 24 anos, 20% se informam regularmente pelo TikTok. No México, esse segmento representa 16%, segundo o Digital News Report 2023, do Instituto Reuters. 

Impulsionado pelo formato de vídeo curto e vertical próprio do TikTok, os "reels" do Instagram ou os "shorts" do YouTube, o consumo de vídeos nas redes sociais é cada vez mais importante para este segmento da população, em detrimento das edições digitais da mídia tradicional, segundo o mesmo estudo.

- "Geração politizada" -

Gerardo grava seus vídeos tendo como fundo a porta do banheiro do quarto. Ele já fez mais de mil nos últimos três anos.

"Temos que entender que o México é um dos países que têm o salário (mínimo) mais baixo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos)", diz, em tom firme, falando rápido e sem roteiro diante do celular. 

Ele faz várias pausas para agilizar a edição das imagens e arrumar o cabelo.

"Durante seu governo, o presidente (Andrés Manuel) López Obrador tentou elevá-lo (o salário mínimo) de forma histórica", acrescenta. Após esta frase, faz um silêncio reflexivo.

"Não, se digo 'de forma histórica' vai parecer que o estou elogiando", diz Vera a si próprio. 

Entre seus seguidores está o presidente da Suprema Corte de Justiça do México, Arturo Zaldívar.

"Muitas vezes as pessoas, inclusive eu, temos preguiça de nos informar" para saber "quem é Xóchitl, quem é Claudia (favorita nas pesquisas)", comenta María Emilia Díaz, de 19 anos, amiga e seguidora de Vera.

"Então, é incrível que apenas entrando em uma plataforma (...) do nada apareça um TikTok que te acrescenta e você não perde seu tempo vendo", prossegue.

Magro, de cabelos castanhos e olhar doce, Gerardo começou a produzir conteúdo para as redes sociais aos 12 anos. Agora, aprendeu a lidar com comentários de ódio e chegou a sofrer ameaças de morte uma vez.

"Acredito que somos uma geração muito politizada", avalia ele, que situa a segurança no topo das preocupações dos jovens de sua idade.

Ele acredita que nasceu em um país "em guerra", referindo-se à violência provocada pela estratégia antidrogas instaurada em 2006 pelo então presidente Felipe Calderón. 

"Acho que se você pergunta a qualquer jovem (...) 'qual é o tema que mais te preocupa?', no mundo a resposta geral seria a mudança climática ou algo mais que atenda ao fator global. No México não, no México é o tema da insegurança", afirma.

Vera diz que para manter uma postura imparcial, pensa o que sua tia, ideologicamente de direita, ou seu tio, de esquerda, poderiam lhe dizer. E garante que ainda não decidiu em quem vai votar em junho.

O México, com 126 milhões de habitantes, soma mais de 420.000 homicídios e dezenas de milhares de desaparecimentos desde 2006, a maioria atribuída a organizações criminosas.

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