"Não demonizarei os migrantes", prometeu na quinta-feira (7) o presidente democrata americano, Joe Biden, durante seu discurso do estado da União ante o Congresso, no qual investiu contra a retórica anti-imigrante de seu rival Donald Trump. 

"Não demonizarei os imigrantes" dizendo que estão 'envenenando o sangue do nosso país'", disse o democrata. 

"Não separei as famílias", acrescentou em clara referência à política de "tolerância zero" contra a migração ilegal aplicada pelo seu antecessor republicano de 2017 a janeiro de 2021, em virtude da qual milhares de crianças foram separadas de suas famílias para desincentivar a chegada maciça de migrantes sem visto pela fronteira com o México. 

A crise migratória é um tema quente da campanha para as presidenciais de novembro, que Biden, de 81 anos, e Trump, de 77, disputarão provavelmente. 

Em seus comícios, o republicano promete "a maior deportação da história" dos Estados Unidos se voltar à Casa Branca. Os migrantes estão matando nosso país, estão matando o nosso povo" e "envenenam o sangue do país", repete até não poder mais. 

Em seu discurso anual ante o Congresso, o democrata tentou se diferenciar dele em todas as frentes, inclusive a migratória. 

Ele acusou Trump de fazer politicagem e "pressionar os republicanos do Congresso" para bloquear um projeto de lei bipartidário que Biden considera essencial e que seus oponentes consideram frouxo demais.

- "Lutar" ou "consertá-lo" -

Biden pediu à Câmara de Representantes, sob controle dos republicanos, que aprove esse projeto de lei que permite restringir o fluxo de migrantes na fronteira com o México, favorece as expulsões aceleradas e endurece as chamadas entrevistas de medo crível para solicitar asilo. 

"Podemos lutar sobre como solucionar [o problema] da fronteira. Ou podemos consertá-lo. Estou preparado para consertá-lo. Me enviem o projeto de lei fronteiriço agora" para assiná-lo, insistiu Biden. 

O democrata recordou que, ao contrário de Trump, em seu primeiro dia no cargo apresentou um projeto de lei "integral" para aprimorar o sistema migratório, mas o Congresso o bloqueou. 

Muitos latinos estão decepcionados com Biden por ele não ter conseguido cumprir sua promessa de conceder cidadania a milhões de pessoas que vivem ilegalmente nos Estados Unidos há anos, incluindo os 'dreamers'(sonhadores), como são conhecido os jovens que chegaram ao país crianças. 

Horas antes do discurso sobre o estado da União, a maioria republicana na Câmara de Representantes adotou um projeto de lei que prevê a prisão de qualquer migrante condenado por roubo. 

- Jovem assassinada -

O texto recebeu o nome de "Laken Riley Act", em homenagem a uma estudante assassinada em fevereiro por um migrante venezuelano em situação ilegal, segundo a polícia, e que se tornou para os conservadores um símbolo do que Trump chama de "crime migrante". 

"Lincoln Riley, uma jovem inocente que foi assassinada por um ilegal, assim aconteceu. Mas quantas milhares de pessoas são assassinadas por legais?", perguntou-se Biden. 

"Aos seus pais digo: meu coração está com vocês", afirmou, mas acrescentou que o número de migrantes que chegam pode diminuir se "a dinâmica na fronteira" mudar. 

Os migrantes pagam aos traficantes de pessoas cerca de 8.000 dólares (pouco menos de 40 mil reais) para cruzar a fronteira porque sabem que se conseguirem "passarão de seis a oito anos até uma audiência e vale a pena se arriscar", explicou. 

"Mas se são apenas seis meses, seis semanas" é "muito pouco provável que as pessoas paguem esse valor" porque podem ser "expulsas rapidamente", acrescentou para tentar convencer o lado republicano. 

Como era de se esperar em um ano eleitoral, seus adversários discordam. 

"Essa noite escutei um presidente que não nos compreende", publicou a congressista Monica de la Cruz, responsável por dar a resposta republicana em espanhol. 

"Na fronteira, vemos o desastre que Biden causou" porque "deixou de fazer cumprir as leis e agora os cartéis e muitos criminosos entram em nosso país", disse, na linha dos conservadores que acusam os democratas de ter permitido que o país fosse "invadido" por migrantes na fronteira com o México. 

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