O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) continuará nesta semana com a redução da Selic, baixando a taxa básica de juros para 10,75%, um corte de 0,5 ponto percentual que ilustra sua abordagem cautelosa, conforme adiantado pela própria entidade e previsto pelo mercado.

O Copom anunciará o sexto corte consecutivo da Selic ao encerrar na quarta-feira a reunião que inicia nesta terça (19).

A Selic ficou em 11,25% em janeiro após uma diminuição de meio ponto percentual. Na ocasião, o comitê previu uma redução da mesma magnitude em março.

Cerca de 135 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo jornal Valor Econômico preveem, de forma unânime, um corte da mesma dimensão.

É “o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, estima o Copom.

"A autoridade monetária tem que atuar com cautela e conservadorismo", disse Gabriel Galipolo, diretor de Política Monetária do BCB, em uma entrevista em fevereiro.

O Banco Central elevou suas taxas para conter os acentuados aumentos de preços após a pandemia de covid-19. Taxas altas encarecem o crédito e desestimulam o consumo e o investimento, reduzindo assim a pressão sobre os preços.

Em fevereiro, a inflação foi de 0,83%, acima do registrado em janeiro (0,42%), para uma inflação em 12 meses de 4,50%.

O aumento gerou preocupações, especialmente pelos preços dos alimentos, que acumularam altas de 2,34% nos dois primeiros meses de 2024, quase o dobro do índice geral (1,25%).

- Lula pressiona -

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou-se irritado com o ritmo de corte das taxas, sem deixar de pressionar o BCB para acelerar o processo.

“Não existe nenhuma explicação econômica, nenhuma explicação inflacionária, não existe nada a não ser a teimosia do presidente do Banco Central em manter essa taxa de juros", reclamou em uma entrevista na semana passada.

Lula culpou o BCB por "contribuir para o atraso do crescimento econômico desse país", sobretudo na segunda metade de 2023.

Apesar dos cortes, o Brasil atualmente tem uma das maiores taxas de juros real (descontando a inflação projetada para 12 meses) do mundo, atrás apenas do México, segundo o site MoneYou.

- "Mais preocupado" -

A Selic subiu de 2% para 13,75% entre março de 2021 e agosto de 2022. Ao atingir esse máximo, permaneceu inalterada por um ano.

Os aumentos de preços no país foram se moderando, e a autoridade monetária começou um rebaixamento gradual em agosto de 2023.

Desde então, os cortes têm sido contínuos, a um ritmo de 0,5 ponto percentual por reunião.

Apesar das pressões do governo, o Comitê repetiu em janeiro a necessidade de "serenidade e moderação na condução da política monetária”.

Embora tenha reconhecido "um progresso desinflacionário relevante", destacou que o comportamento observado dos preços "requer maior escrutínio".

Na semana passada, após a divulgação dos números de inflação de fevereiro, Lula se reuniu com ministros para discutir como controlar os preços dos alimentos.

"Ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta”, alertou o Copom.

As projeções de inflação para o ano estão em 3,79%, próxima à meta de 3% estabelecida pelo BCB e dentro da faixa (mais ou menos 1,5 ponto porcentual), de acordo com a pesquisa Focus da entidade.

Por outro lado, o Copom ponderou as incertezas no cenário internacional devido às tensões geopolíticas ainda não resolvidas, que exigem cautela.

O organismo adotou em seu último relatório um “um tom mais preocupado” sobre os riscos potenciais, analisaram em uma nota economistas do banco digital C6. Isso "torna menos provável uma aceleração do ritmo de cortes de juros", disseram.

Várias instituições e consultorias preveem até mesmo que o Copom possa antecipar nesta quarta-feira ajustes menores para o futuro, com cortes de 0,25 ponto percentual.

O mercado, assim como o Ministério da Fazenda, projeta uma Selic de 9% para o final deste ano, segundo o boletim Focus, do Banco Central.

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