A oposição turca abriu vantagem sobre o partido do presidente Recep Tayyip Erdogan nas eleições municipais em Istambul e Ancara, neste domingo (31), apesar do forte envolvimento do chefe de Estado na campanha, segundo os resultados parciais.

"Os eleitores decidiram mudar a cara da Turquia", afirmou Özgür Özel, presidente do partido de oposição social-democrata CHP, após a divulgação dos primeiros resultados na noite deste domingo.

Aos 70 anos, Erdogan se envolveu de corpo e alma na campanha eleitoral deste país de 85 milhões de habitantes para impulsionar os candidatos do seu partido, o islâmico-conservador AKP.

Um de seus principais objetivos é recuperar a Prefeitura de Istambul, capital econômica do país, que ele governou entre 1994 e 1998.

Mas a crise econômica que afeta as famílias, com uma inflação elevada, beneficiou a oposição e o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, do CHP, expressou um otimismo pungente após a divulgação dos resultados parciais.

Com 71% das urnas apuradas, Imamoglu tem 50,4% dos votos, contra 40,9% para seu principal adversário da situação, o ex-ministro Murat Kurum.

Imamoglu se mostrou prudente nas declarações à imprensa na noite deste domingo. "A foto que temos à vista agrada, mas vamos esperar os resultados completos".

Em Ancara, o prefeito Mansur Yavas, também do CHP, reivindicou a vitória depois da apuração de 46,4% das urnas, que o colocaram na dianteira com 58,6% dos votos frente a 33,5% do candidato apoiado por Erdogan.

O CHP também tem uma vantagem importante em Esmirna, a terceira cidade do país.

As eleições municipais são consideradas um teste para o presidente Recep Tayyip Erdogan.

"Há uma necessidade real de equilíbrio, ao menos em nível local, contra o governo", disse, em Ancara, Serhan Solak, de 56 anos, que disse ter votado em Mansur Yavas.

Embora o chefe de Estado não seja candidato nestas eleições locais, sua sombra se projetou mais do que nunca sobre as urnas, chegando a realizar quatro comícios por dia.

"Esta eleição vai marcar o início de uma nova era para o nosso país", afirmou, após votar em Istambul.

- A disputa por Istambul -

Erdogan foi prefeito da cidade nos anos 1990, antes de ser presidente e, nestas eleições, se empenhou para tirar da Prefeitura Imamoglu, personalidade de destaque da oposição que lhe arrebatou a principal e mais rica cidade do país.

Se Imamoglu for reeleito, ele poderia ganhar muito peso com vistas às eleições presidenciais de 2028.

"Espero que Istambul e a Turquia acordem [na segunda-feira] com uma bela manhã de primavera", disse o prefeito após votar na companhia de sua família.

Erdogan o descreveu como um indivíduo ambicioso e pouco preocupado com a cidade, tachando-o de "prefeito em meio período", obcecado com a Presidência.

Apesar da mobilização de recursos de Erdogan, a crise econômica tem comprometido as chances do seu partido.

O país enfrenta uma inflação oficial de 67% em 12 meses e uma desvalorização expressiva de sua moeda (de 19 a 31 liras turcas por dólar em um ano).

"As pessoas estão preocupadas com o dia a dia", disse Guler Kaya, de 43 anos, moradora de Istambul. "A crise está engolindo a classe média, tivemos que mudar nossos hábitos", relatou. "Se Erdogan vencer, será ainda pior".

Na província de maioria curda de Diyarbakir, no sudeste do país, foram registrados confrontos à margem das eleições neste domingo: uma pessoa morreu e 12 ficaram feridas, informou um funcionário à AFP.

Desta vez, ao contrário de 2019, a oposição enfrenta dispersa estas eleições. O partido CHP, a principal legenda opositora, não conseguiu consenso para o nome de Imamoglu em Istambul, nem em outras partes do país. 

O partido pró-curdo Dem se apresentou sozinho, o que favoreceria o partido no poder, ameaçado pela pressão do partido islamista Yeniden Refah.

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