BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - O presidente da Argentina, Javier Milei, baixou decreto para revogar no sábado (9/03) um aumento do próprio salário.
Alvo de intensas críticas por elevar seu salário e dos ministros e secretários, Milei culpou a ex-presidente Cristina Kirchner. "Acabo de ser informado que, em decorrência de um decreto assinado pela ex-presidente Cristina Kirchner em 2010, que estabelecia que os dirigentes políticos deveriam ganhar sempre mais que os funcionários da administração pública, foi concedido um aumento automático aos quadros políticos deste governo", disse em publicação em uma rede social.
Em 21 de fevereiro, Milei havia concedido um aumento de 30% no salário-mínimo, abaixo da inflação acumulada - que, em janeiro, bateu em 98,8% - e do esperado pelos sindicatos. A Argentina vive um aumento da pobreza em meio a medidas de austeridade fiscal implementadas por Milei.
No sábado (9/03) de manhã, a deputada peronista e ex-ministra do desenvolvimento social Victoria Tolosa Paz compartilhou a normativa do governo que concedia um aumento de 48% aos funcionários do Poder Executivo. "Milei mente com esse discurso de austeridade", disse a legisladora.
A medida foi rechaçada em diversas postagens nas redes sociais.
Mais tarde, em um comunicado, a Casa Rosada afirmou ter revogado, por meio de um decreto, "a normativa estabelecida por Cristina Fernández de Kirchner que vinculava os aumentos dos trabalhadores da administração pública nacional aos salários dos funcionários".
"Esta medida foi projetada e executada com o objetivo de proteger os bolsos da casta", afirmava o documento divulgado no X. Além disso, o comunicado afirmava que "a situação herdada é crítica, e os argentinos estão fazendo um sacrifício heroico". E concluía: "É hora de os políticos pagarem o custo do desfalque que causaram".
Bate-boca nas redes
Milei e Cristina bateram boca pelas redes sociais. A ex-presidente afirmou que Milei está destruindo as pensões e os salários dos argentinos.
"Acredito que o senhor lê o que assina, não? No decreto de janeiro, o senhor não incluiu expressamente as autoridades e, no de fevereiro, o senhor e os seus funcionários foram incluídos", escreveu a ex-vice-presidente.
"Eu achava que você era mais corajoso, presidente. Aí descobrimos que o senhor e seus funcionários aumentaram o salário em 48%". E completou com uma alfinetada: "E não lhe ocorre uma desculpa melhor do que me culpar, por um decreto que assinei há 14 anos? ... Não dá para ser mais casta e menos original".
O mandatário argentino respondeu.
"Olá Cristina. Acabei de cancelar os aumentos de salário de todo o gabinete. Já que a vi tão preocupada com as aposentadorias, o que acha de eu cancelar os $ 14.000.000 [cerca de R$ 82 mil, pelo câmbio oficial] que você recebe de aposentadoria privilegiada e lhe conceder uma aposentadoria mínima? Acho que você não vai reclamar. Saudações", postou o presidente argentino.