O Exército americano instalará uma "doca temporária" no litoral da Faixa de Gaza para permitir o envio de grandes volumes de ajuda humanitária, uma técnica que já foi testada, mas que necessita de uma logística complexa. 

O presidente americano, Joe Biden, anunciou, na semana passada, que ordenou a instalação de um porto alternativo em Gaza, cujo componente principal é uma "doca temporária". 

Quatro navios do Exército americano zarparam da base da Virgínia, no leste, na terça-feira em direção à região. 

A seguir, algumas explicações e dúvidas levantadas sobre essa estrutura humanitária. 

- O projeto americano  -

O objetivo é entregar diariamente cerca de dois milhões de refeições e garrafas de água em um prazo de 60 dias. 

O projeto, realizado pela 7ª Brigada Expedicionária de Transporte, com sede na Virgínia, é "um porto marítimo temporário em alto mar" que permitirá aos navios militares ou civis depositarem sua carga, explicou o porta-voz do Pentágono, general Pat Ryder, na semana passada. 

A ajuda será levada por barcos de apoio logístico a um embarcadouro que leva à costa, de cerca de 500 metros de comprimento e com largura suficiente para dois carris simultâneos. 

O sistema foi testado em 2023 em manobras militares organizadas pelos Estados Unidos e Austrália no litoral de Queensland. 

Cerca de mil soldados montarão a estrutura em Gaza utilizando técnicas simples, mas com peças muito pesadas. 

"Não haverá forças americanas no terreno", insistiu Ryder, ao mencionar a coordenação "com outras nações" para a distribuição da ajuda. 

- Os antecedentes -

A última vez que um sistema desse foi empregado foi no Haiti depois do terremoto de 12 de janeiro de 2010 que deixou mais de 200.000 mortos. 

Naquela ocasião, o sistema substituiu as infraestruturas portuárias de Porto Príncipe, danificadas por seus "guindastes tombados, docas destruídas e vias marítimas obstruídas", segundo o site da Administração Marítima do Departamento de Transporte americano. 

A primeira vez que um dispositivo desse tipo foi empregado em tempo de guerra foi no desembarque das forças aliadas em 1944, com o famoso "porto Mulberry", composto por peças pré-fabricadas no Reino Unido e transportadas até a costa francesa na Segunda Guerra Mundial. 

Foi uma estrutura "essencial", segundo o historiador marítimo Salvatore Mercogliano. 

"Invadiram uma praia sem necessidade de tomar um porto, após as lições do ataque (fracassado e mortal) contra Dieppe em 1942", explica à AFP. 

Um sistema similar também foi usado na Guerra do Vietnã na costa de Danang (centro) nos anos 1960. 

- Alternativa ao lançamento aéreo -

O lançamento aéreo "é preciso e rápido, mas tem uma capacidade limitada para certos tipos de suprimentos", afirma o general aposentado americano Mark Hertling na rede social X. 

"Também é relativamente caro. É difícil recuperar os paraquedas caros e os GPS", acrescenta o general, que defende o uso de um porto temporário. 

Para Mecogliano, "não é rápido, não entregará grandes quantidades, mas é uma grande melhora comparado com nada ou com os lançamentos aéreos". 

Considera, no entanto, que seria "muito mais fácil" permitir a entrada da ajuda por terra, mas essa opção está bloqueada a nível político. 

"É a solução mais complicada", comenta, por sua vez, Michel Goya, coronel aposentado e historiador militar francês. 

Em 1944, um dos portos Mulberry ficou destruído em uma tempestade. Mas as marés baixas e o clima ameno do Mediterrâneo provavelmente facilitarão o uso desses "grandes blocos ligados entre si". 

- Dúvidas sobre a segurança -

Resta garantir a segurança do complexo em uma região de alta tensão. 

"Nos concentraremos na segurança de nossos homens, além de trabalhar com nossos aliados na região para garantir que a ajuda seja entregue de forma segura", indicou Ryder. 

"O Hamas permitirá que isso aconteça, ou atacará os embarcadouros, docas flutuantes e barcos que se aproximarem? É uma questão que deve ser levada a sério", adverte Mercogliano. 

Uma estrutura fixa e tão pesada estará exposta a ataques inimigos. Mas, no momento, parece improvável que o movimento islamista palestino, no poder em Gaza, ataque uma estrutura que irá entregar ajuda à sua própria população. 

"O risco seria provocar uma operação americana em resposta contra o Hamas", aponta Goya, que prevê que o Washington posicionará nas proximidades "um porta-helicópteros de assalto" e, talvez, um porta-aviões e seu grupo aeronaval para intervir em caso de emergência. 

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