Um tribunal da França condenou, nesta quarta-feira (27), em apelação, o ex-comandante rebelde da Libéria Kunti Kamara a 30 anos de prisão por violência contra civis e cumplicidade em crimes contra a humanidade durante a primeira guerra civil no país africano.

Kamara, de 49 anos, foi condenado à prisão perpétua em um primeiro julgamento, realizado em Paris em 2022. A sentença desta quarta é resultado de um recurso apresentado pela defesa do réu.

O tribunal reconheceu que Kamara é culpado de uma série de "atos desumanos de tortura e barbárie" contra civis entre 1993-1994, entre outros por torturar um professor e, supostamente, comer seu coração.

O tribunal também o considerou culpado de cumplicidade em crimes contra a humanidade por não ter impedido que soldados sob o seu comando estuprassem repetidamente duas adolescentes em 1994. 

Kamara está detido na França desde 2018 e foi comandante regional do Movimento Unido de Libertação da Libéria para a Democracia (ULIMO), um grupo rebelde que lutou contra a Frente Patriótica Nacional do então presidente Charles Taylor.

A Promotoria havia pedido a manutenção de sua condenação à prisão perpétua.

A Libéria, um país da África Ocidental com uma história peculiar, fundado e colonizado por escravos americanos libertos, foi cenário de duas violentas guerras civis, em 1989-1996 e 1999-2003.

Os conflitos deixaram cerca de 250.000 mortos e milhões de deslocados no país, um dos mais pobres do planeta.

Na aplicação de uma "competência universal", a Justiça francesa tem a possibilidade de julgar e condenar, sob determinadas condições, autores e cúmplices de crimes particularmente graves cometidos fora de sua jurisdição territorial.

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