A Faixa de Gaza foi cenário mais uma vez nesta quinta-feira (29) de bombardeios e combates entre o Exército israelense e o Hamas, depois que Israel abriu a porta para um debate com os Estados Unidos sobre seu projeto de ofensiva na cidade de Rafah.
O Ministério da Saúde do Hamas informou nesta quinta-feira que ao menos 66 mortes foram registradas em Gaza durante a noite, a maioria em bombardeios. Um funcionário da administração local relatou combates nas imediações da Cidade de Gaza, no norte da Faixa, e em Khan Yunis, no sul.
O Exército de Israel, que acusa os combatentes do movimento islamista palestino de utilizarem os hospitais como esconderijos, prossegue com a operação iniciada em 18 de março no complexo hospitalar Al Shifa, na Cidade de Gaza.
Em Khan Yunis, os soldados executam operações em áreas próximas dos hospitais Naser e Al Amal, assim como nas imediações do Al Qarara.
O Exército informou em um comunicado a "eliminação de quase 200 terroristas na área do hospital Al Shifa" desde o início das operações.
As tropas israelenses "transferiram civis, pacientes e equipes médicas para instalações médicas alternativas estabelecidas pelo Exército para permitir a continuidade dos tratamentos médicos apropriados", afirma a nota das Forças Armadas.
Segundo o Crescente Vermelho Palestino, o hospital Al Amal interrompeu todas as atividades após a retirada dos civis. O Exército israelense anunciou nesta quinta-feira ter "eliminado dezenas de terroristas na área de Al Amal", onde suas tropas "encontraram artefatos explosivos e projéteis de morteiro".
Além das ofensivas na Cidade de Gaza e em Khan Yunis, Israel planeja uma operação terrestre em Rafah, uma cidade do sul de Gaza que as autoridades do país consideram o último reduto do Hamas e onde 1,5 milhão de palestinos estão aglomerados, a grande maioria deslocados pela violência em outras áreas do território.
O governo dos Estados Unidos, principal aliado do Israel, teme o custo humano da operação.
A recente aprovação de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU que exige um "cessar-fogo imediato", possível graças à abstenção dos Estados Unidos, enfureceu o governo israelense.
Mas na quarta-feira, um funcionário de alto escalão do governo americano afirmou que o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu está disposto, agora, a conversar com Washington sobre a possível ofensiva em Rafah.
O Catar, que atua como mediador ao lado do Egito e dos Estados Unidos, afirmou que as negociações indiretas entre Israel e Hamas prosseguem, com o objetivo de alcançar uma trégua e uma troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.
- Alimentos de paraquedas -
A guerra começou após o ataque do movimento islamista palestino Hamas contra Israel em 7 de outubro, que deixou pelo menos 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.
Segundo Israel, 250 pessoas foram sequestradas e 130 continuam como reféns em Gaza - 34 delas teriam sido mortas.
Em represália, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, que considera uma organização terrorista, mesma classificação atribuída ao grupo por Estados Unidos e União Europeia, e iniciou uma vasta operação que deixou 32.552 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
A guerra também causou uma catástrofe humanitária no pequeno território palestino, onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes enfrenta a ameaça da fome, segundo a ONU.
A ajuda humanitária por via terrestre é controlada por Israel e entra a conta-gotas no território. De modo paralelo, vários países árabes e ocidentais lançam alimentos de paraquedas, especialmente no norte da Faixa de Gaza, onde a situação é desesperadora.
O Hamas anunciou na terça-feira que 18 pessoas morreram, 12 delas afogadas, quando tentavam recuperar os pacotes de alimentos jogados no mar de paraquedas. O movimento pediu a interrupção dos lançamentos.
"Quando os paraquedas caíram na água, jovens e meninos começaram a caminhar em sua direção. Infelizmente, alguns não retornaram", disse à AFP Uday Nasar, que testemunhou a tragédia.
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