Ibrahim Abu Ahmad e Shahd Bishara são dois palestinos com nacionalidade israelense e, nesta sexta-feira (29), puderam, enfim, protestar contra a guerra em Gaza na pequena Shefa Amr, cidade de maioria árabe no norte de Israel.

Há algumas semanas, pela primeira vez desde o sangrento ataque do movimento islamista palestino Hamas, em 7 de outubro em Israel, as manifestações foram autorizadas na região, onde vive grande parte da minoria árabe israelense, que soma 21% da população.

Os manifestantes não eram muitos nesta sexta-feira, cerca de 150. O pequeno cortejo, também formado por judeus pertencentes a movimentos pacifistas, caminhou atrás de uma faixa com a mensagem, "Só a paz dará segurança".

"Paz, liberdade, justiça social", mas também "Liberdade, liberdade para a Palestina" foram as palavras de ordem que eles repetiam ao descer pela principal rua da cidade.

A marcha, acompanhada por um carro da Polícia, circundou o cemitério cristão e foi recebida com sorrisos pelos moradores, visivelmente surpresos.

Na semana passada, centenas se concentraram em Majd al Krum por iniciativa de uma organização árabe. Os manifestantes pediam "Parem com a guerra!", segundo um cinegrafista da AFP.

Em novembro, ao contrário, os manifestantes tiveram que desistir de se manifestar nestas cidades, pois não receberam autorização da Polícia, o que foi confirmado pela justiça.

Nesta sexta-feira, em Shefa Amr, a 160 km de Gaza, território palestino sitiado por Israel em represália ao ataque de 7 de outubro, Shahd Bishara pôde expressar sua "solidariedade".

- "Humanidade comum" -

"Nossa humanidade comum não pode aceitar a crise humanitária e os massacres em Gaza. E obviamente não esquecemos os reféns ainda mantidos lá", disse esta médica de 30 anos.

"Desde 7 de outubro, a sociedade palestina em Israel foi muito oprimida pelas autoridades, não temos podido expressar nossa solidariedade com o povo de Gaza, com o povo palestino de Gaza. E fizemos muitos esforços para obter a autorização da polícia para organizar este tipo de manifestação", disse Bishara.

A guerra começou após o ataque sem precedentes do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, no qual comandos islamistas mataram 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo balanço da AFP com base em fontes israelenses.

Os combatentes islamistas também capturaram naquele dia 250 pessoas, 130 das quais continuam retidas em Gaza, incluindo 34 que teriam morrido, segundo as autoridades israelenses.

Em retaliação, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva em Gaza, que já deixou 32.623 mortos, também civis na maioria, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

"Compreendemos a dor do nosso povo, os palestinos, e a dor dos nossos amigos israelenses, e o futuro de ambos os povos nos preocupa", disse Hyam Tannous, lendo uma mensagem em hebraico.

Aqui "nos lembramos do que ocorreu em 7 de outubro. E dizemos que nossa comunidade foi afetada", ressaltou Ibrahim Abu Ahmad, um ativista pela paz de 31 anos, que se define como um "israelense palestino" e rejeita a expressão "árabe israelense" usada em Israel.

"Isso nega elementos-chave do que somos. O problema é que o termo 'palestino' está presente (em Israel) como uma reivindicação política, não como um povo. E nós somos esse povo", afirmou.

- "Menos casos" -

Até agora, "fomos impedidos de expressar nossa solidariedade", relatou Bishara.

A ONG "Mossawa" ("Igualdade", em árabe) documentou um aumento nas "discriminações sistemáticas" contra cidadãos árabes de Israel desde o início da guerra: detenções após a publicação de versículos do Alcorão ou mensagens em solidariedade nas redes sociais, agressões na universidade, discriminações no trabalho, manifestações proibidas.

Há algumas semanas, "há menos casos" porque a associação recorreu à justiça, disse à AFP seu diretor, Jaafar Farah. Farah conseguiu que a polícia não abordasse mais investigações sobre liberdade de expressão sem uma supervisão judicial.

Segundo ele, de 350 detenções, 140 ainda são alvo de processos. A princípio, a ONG registrava cerca de 20 prisões diárias contra algumas por semana atualmente.

Hoje, "árabes e judeus estão juntos em uma cidade árabe, [essa] é uma declaração muito forte", ressaltou Abu Ahmad.

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