Israel indicou, nesta sexta-feira (5), que permitirá a entrega "temporária" de ajuda humanitária à Faixa de Gaza, sitiada e à beira da fome, através do porto de Ashdod e da passagem de Erez, um dia depois de uma advertência do seu aliado americano.
A situação humanitária no território palestino é crítica. A guerra entre Israel e o Hamas se aproxima dos seis meses, desencadeada após um ataque sem precedentes do movimento islamista em solo israelense em 7 de outubro.
A resposta de Israel, que lançou uma campanha militar maciça contra o enclave, causou até agora 33.091 mortes, principalmente civis, de acordo com o último balanço das autoridades do Hamas.
A pressão internacional aumenta contra o governo israelense e o Conselho dos Direitos Humanos da ONU exigiu nesta sexta-feira a proibição da venda de armas a Israel, invocando o risco de "genocídio" em Gaza.
O presidente dos EUA, Joe Biden, propôs na quinta-feira pela primeira vez condicionar o seu apoio a Israel à implementação de "medidas específicas, concretas e mensuráveis" face à catástrofe humanitária no território palestino.
O gabinete de segurança israelense aprovou "medidas imediatas" para aumentar o fluxo de ajuda humanitária à população civil, declarou nesta sexta-feira o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
Após este anúncio, Washington disse esperar "resultados" nos próximos dias e semanas, nas palavras do secretário de Estado, Antony Blinken.
Os Estados Unidos querem garantir que a ajuda chegue "de forma efetiva" àqueles que mais precisam, "quase 100%" da população de Gaza, acrescentou.
- Acesso "temporário" -
Israel vai autorizar a entrada "temporária" de ajuda através do porto israelense de Ashdod, cerca de 40 quilômetros ao norte da Faixa de Gaza, e pela passagem de Erez, também no norte.
As autoridades israelenses permitirão também "um aumento da ajuda jordaniana" através da passagem de Kerem Shalom, no sul do território palestino.
A guerra eclodiu após o ataque mortal do Hamas em solo israelense, no qual morreram 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um novo balanço da AFP baseado em dados oficiais.
Os combatentes islamistas também capturaram mais de 250 pessoas, das quais 130 ainda estão detidas em Gaza, incluindo 34 que teriam morrido, segundo as autoridades israelenses.
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva aérea e terrestre implacável em Gaza, governada pelo grupo islamista desde 2007.
Biden também pediu a Netanyahu um "cessar-fogo" com o Hamas, em um contexto de tensão sobre uma possível operação terrestre israelense em Rafah, onde estão aglomeradas 1,5 milhão de pessoas deslocadas pelos combates.
Os serviços de imprensa do Hamas relataram nesta sexta-feira bombardeios e disparos de artilharia israelenses na Faixa, especialmente em Rafah e Khan Yunis, também no sul.
Em Khan Yunis, o Exército israelense afirmou ter destruído "uma infraestrutura terrorista subterrânea" e localizado armas.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, 56 corpos foram transferidos para hospitais, a maioria crianças, mulheres e idosos.
- Reunião do Conselho de Segurança -
A morte, na segunda-feira, de sete trabalhadores da ONG americana World Central Kitchen (WCK), fundada pelo chef espanhol José Andrés, em um bombardeio israelense, aumentou o descontentamento internacional.
O Exército israelense admitiu nesta sexta-feira uma série de "erros" no ataque.
A equipe responsável pelos drones que bombardearam os veículos cometeu "um erro operacional na avaliação da situação" depois de ter visto um suposto "homem armado do Hamas" disparar do teto de um dos caminhões do comboio da ONG, segundo uma investigação interna do Exército.
Após a tragédia, a WCK anunciou que suspenderia as suas operações em Gaza. A organização espanhola Open Arms, que colaborou com ela no primeiro envio de um navio com ajuda humanitária este mês, fez o mesmo.
Várias ONGs internacionais, como Médicos Sem Fronteiras, Oxfam e Save the Children International, alertaram que é quase impossível para eles trabalharem no território palestino.
O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta sexta-feira para discutir a situação dos trabalhadores humanitários e o risco de fome em Gaza.
Devido às dificuldades de entrega da ajuda por via terrestre, muitos países realizam entregas de alimentos por via aérea, mas a ONU insiste que estes métodos não devem substituir o acesso por via terrestre.
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