Musa de algumas correntes feministas, mas acusada de transfobia, a autora da bem-sucedida saga Harry Potter, J.K. Rowling, se tornou uma personalidade controversa nos últimos anos após diversas polêmicas nas redes sociais.
A escritora britânica se defende dessas acusações, mas essas controvérsias mancham para alguns sua imagem como autora de origem humilde, cujas aventuras de aprendizes de mago alcançaram um sucesso planetário com mais de 600 milhões de livros vendidos.
O último capítulo ocorreu neste mês, com a entrada em vigor de uma nova lei na Escócia sobre a luta contra o ódio, incluindo o ódio contra pessoas transgênero.
A autora de 58 anos, que vive em Edimburgo desde meados da década de 1990 com seu segundo marido, publicou em 1º de abril uma série de mensagens na rede social X.
Nelas, ela listou várias mulheres transgênero, algumas condenadas por crimes sexuais, antes de concluir: "As pessoas mencionadas [...] não são mulheres de forma alguma, mas homens".
Ela também considerou que a liberdade de expressão está ameaçada se "a descrição precisa do sexo biológico" de uma pessoa se tornar algo repreensível, o que gerou uma nova onda de acusações de transfobia.
Suas opiniões se inserem em um debate aberto e às vezes tenso no Reino Unido sobre identidades trans, alimentado também por veículos conservadores que têm retratado Rowling como uma "heroína", como foi recentemente afirmado em um artigo de opinião do tabloide Daily Mail.
Tudo começou em 2018, quando a escritora curtiu um tuíte que descrevia as mulheres transgênero como "homens de vestido". Criticada, Rowling reconheceu o erro.
Em 2019, ela defendeu publicamente uma pesquisadora, Maya Forstater, demitida por tuítes considerados transfóbicos.
E em 2020, ela ironizou um artigo que usava a fórmula "pessoas com menstruação". "Tenho certeza de que costumava haver uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajuda. ¿Wumben? Wimpund? Woomud?", disse em referência à palavra em inglês "women" (mulheres).
Os atores de Harry Potter, como Daniel Radcliffe ou Emma Watson, que interpretam o famoso mago e sua amiga Hermione Granger, se distanciaram da escritora.
Em 2022, Rowling se opôs a um projeto de lei escocês que buscava simplificar o reconhecimento da mudança de gênero e que foi finalmente bloqueado pelo governo britânico.
A escritora se reivindica como uma militante feminista, especialmente contra a violência sexual e conjugal da qual revelou ter sido vítima, mas considera que os direitos das mulheres podem ser comprometidos por algumas reivindicações dos defensores dos direitos trans.
Ela está especialmente preocupada com a autorização para que mulheres transgênero possam entrar em vestiários, banheiros ou prisões reservadas para mulheres.
- Fenômeno social -
Nascida em 31 de julho de 1965 em Chipping Sodbury, no oeste da Inglaterra, a pequena Joanne cresceu em uma família modesta e desde muito cedo começou a escrever e contar histórias nascidas de sua imaginação.
Depois de estudar francês, ela se torna tradutora na Anistia Internacional em Londres. Em uma viagem de trem de Manchester a Londres, ela imagina a história de Harry Potter, um garoto de 11 anos que descobre que tem poderes mágicos e vai estudar em uma escola de bruxos.
Os sentimentos de seu herói órfão ressoam com os da morte prematura de sua própria mãe, quando a escritora tinha apenas 25 anos.
Rowling vai ensinar inglês em Portugal, onde se casa e tem uma filha. Ela escreve as aventuras de Harry Potter todas as manhãs, antes de ir para o trabalho, e continua após retornar ao Reino Unido em 1995 para se instalar na Escócia com sua filha após seu divórcio.
Ela viveu de benefícios sociais e levou mais de um ano para encontrar uma editora, a Bloomsbury, que quisesse publicar o primeiro volume da saga. Ao longo dos anos, seus livros se tornaram um fenômeno, com mais de 600 milhões de exemplares vendidos e traduzidos para mais de 80 idiomas.
Os oito filmes baseados em sua obra geraram cerca de US$ 9 bilhões (R$ 45 bilhões) em bilheteria, tornando Rowling uma mulher bilionária.
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