O Exército de Israel prosseguiu nesta segunda-feira (15) com as operações na Faixa de Gaza, após afirmar que o ataque iraniano do fim de semana não impedirá o país de alcançar o objetivo de eliminar o movimento islamista palestino Hamas.
"Apesar dos ataques do Irã, não perdemos de vista – nem por um momento – nossa missão essencial em Gaza, que consiste em salvar os nossos reféns que estão sob poder do Hamas", disse o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari.
Segundo o Exército, os reféns sequestrados pelo Hamas no ataque de 7 de outubro contra Israel estão em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que está decidido a iniciar uma ofensiva terrestre contra a cidade, apontada como o último reduto do Hamas, apesar das advertências dos Estados Unidos e de outros países, que temem um banho de sangue.
Segundo a ONU, quase 1,5 milhão de moradores de Gaza deslocados pela guerra estão aglomerados em Rafah, a maioria em acampamentos improvisados.
Milhares deles não aguentaram mais no domingo e partiram para a estrada que segue em direção ao norte, após um boato de que o Exército israelense estava permitindo o retorno dos deslocados à região.
- "Não é possível respirar" -
"Eu não conseguia mais ficar no sul, há muita gente. Não é possível respirar lá. É terrível", disse Basma Salman.
O porta-voz militar israelense, no entanto, insistiu que "o norte da Faixa de Gaza ainda é uma zona de combate".
Vários moradores de Gaza entrevistados pela AFP afirmaram que foram alvos de tiros durante a peregrinação ao norte.
Nour, um homem com idade por volta de 30 anos, desistiu da viagem. "Eles atiravam na direção dos homens, tive que retornar. Não queremos morrer", declarou.
A guerra explodiu quando combatentes do Hamas atacaram o sul de Israel e mataram 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um cálculo da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Também fizeram 250 reféns, dos quais 129 permanecem em Gaza, incluindo 34 que se acredita que estão mortos, de acordo com as autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva implacável que já deixou 33.729 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território.
- Reabertura das escolas -
Hamas e Israel trocam acusações de sabotagens nas negociações para uma trégua, mas "a diplomacia não morreu", afirmou no domingo John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano.
Em Israel, o Exército anunciou a reabertura nesta segunda-feira da maioria das escolas do país, que foram fechadas após o ataque iraniano.
O Irã executou, no sábado, um ataque sem precedentes com drones e mísseis em resposta a um bombardeio, atribuído a Israel, contra o seu consulado em Damasco, no dia 1º de abril.
Israel afirma que o ataque iraniano foi "frustrado", depois que o país derrubou 99% dos 350 drones, mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro, com a ajuda dos Estados Unidos, Jordânia, França e outros países.
Hagari afirmou que os poucos projéteis que seguiram sua trajetória "atingiram levemente" uma base militar, que continua operacional.
Já o Irã comemorou uma operação que alcançou "todos os seus objetivos" com o ataque.
O embaixador iraniano na ONU, Amir Saeid Iravani, afirmou no domingo que o "Conselho de Segurança falhou em seu dever de manter a paz e a segurança internacionais", ao não condenar o ataque de 1º de abril em Damasco.
Diante disso, declarou na reunião de emergência do Conselho que seu país "não teve escolha a não ser exercer seu direito à autodefesa" ao atacar Israel.
O embaixador israelense, Gilad Erdan, por sua vez, defendeu na reunião que o Conselho de Segurança "precisa agir" e impor "todas as sanções possíveis ao Irã antes que seja tarde demais".
- "À beira do abismo" -
Durante a reunião, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou sobre uma possível intensificação do conflito no Oriente Médio.
"Nem a região, nem o mundo podem se permitir mais guerras", clamou Guterres. "O Oriente Médio está à beira do abismo", declarou.
Guterres também condenou o bombardeio contra o consulado iraniano em Damasco, destacando o "princípio de inviolabilidade" das sedes diplomáticas.
O ataque matou sete integrantes da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do Irã. Teerã atribui o ataque a Israel, que não confirma ou nega.
Desde a revolução islâmica de 1979, Israel é o grande inimigo do Irã, que defende a destruição do Estado hebreu.
Mas até agora, Teerã havia evitado atacar Israel diretamente, apesar de apoiar grupos como o Hezbollah libanês, que regularmente entra em conflito com Israel.
Vários analistas consideram que é quase inevitável que Israel responda ao ataque iraniano.
"A grande pergunta não é apenas se Israel vai agir, mas também o que decidirá fazer", declarou uma fonte do governo americano à AFP.
O Irã, no entanto, parece que tentou evitar uma escalada, segundo o analista Nick Heras, do americano New Lines Institute for Strategy and Policy.
O ataque era algo para que "todos vissem, mas não para fazer com que a situação degenerasse em uma guerra regional total", disse Heras à AFP.
O porta-voz da diplomacia iraniana afirmou que os países ocidentais deveriam "apreciar a moderação" do país após o ataque.
"Ao invés de acusações contra o Irã, os países (ocidentais) deveriam culpar a si mesmos e responder à opinião pública pelas medidas que adotaram contra os [...] crimes de guerra cometidos por Israel" em sua luta na Faixa de Gaza contra o movimento islamista palestino Hamas, aliado do Irã, disse Nasser Kanani, que pediu aos ocidentais para "apreciar a moderação do Irã nos últimos meses".
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