SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O gabinete de guerra de Israel discutiu nesta segunda-feira (15) uma série de opções para retaliar o Irã após o ataque sem precedentes com mísseis e drones do último sábado (13). Autoridades de Tel Aviv, porém, manifestaram preocupação em não ampliar a guerra na região, segundo a imprensa local.
O Canal 12, mencionando um relatório do governo ao qual teriam tido acesso, disse que a intenção é fazer ações coordenadas com os Estados Unidos, sem desencadear outra guerra regional, mas passando a mensagem de que um ataque dessa magnitude não vai ficar sem reação. O governo americano, porém, tem afirmado que não se juntaria a Israel em qualquer ataque direto ao Irã.
Não foram divulgados detalhes sobre quais ações estão sendo avaliadas pelas autoridades israelenses. O chefe do Estado-Maior de Israel, general Herzi Halevi, disse que Tel Aviv irá retaliar. Já Daniel Hagari, porta-voz das forças israelenses, limitou-se a dizer que a resposta acontecerá "na ocasião e no horário certos".
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Ele visitou uma base militar no sul do país que foi alvo da artilharia iraniana e divulgou um vídeo de uma cratera em um terreno desértico no local ?os militares relataram que a instalação sofreu apenas danos leves. "Faremos tudo o que for necessário", disse Hagari em referência à proteção do Estado de Israel.
Teerã lançou o ataque em resposta ao bombardeio à embaixada iraniana em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária do Irã, em 1º de abril. Nesta segunda, o porta-voz da diplomacia iraniana, Nasser Kanani, disse que líderes ocidentais deveriam "apreciar a moderação iraniana nos últimos meses" em vez de criticar o regime. Segundo analistas, o ataque de sábado também foi calculado de maneira que não detonasse uma guerra regional.
"Em vez de fazer acusações, os países [ocidentais] deveriam culpar a si mesmos e responder à opinião pública pelas medidas que adotaram contra os crimes de guerra cometidos por Israel", disse Kanani, em referência ao conflito na Faixa de Gaza, iniciado em 7 de outubro, e aos ataques atribuídos a Israel contra alvos aliados de Teerã na Síria e no Líbano - Tel Aviv não costuma assumir a autoria dessas ações.
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Já Hossein Amirabdollahian, chanceler do Irã, manifestou-se sobre a eventual retaliação israelense. Em linha com outras declarações já divulgadas pelo regime, ele reiterou que Teerã "responderá imediatamente e com mais força" em caso de novo ataque, mas enfatizou que o país persa não quer aumentar tensões.
O gabinete de guerra do governo de Israel já havia se reunido no domingo (14) para discutir as próximas ações, mas concluiu o encontro sem anunciar novas medidas. Enquanto as negociações se desenrolam, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, instou a comunidade internacional a "permanecer unida" contra o Irã e ao que chamou de "agressão que ameaça a paz mundial", segundo nota divulgada por seu gabinete.
O primeiro ataque de Teerã contra Israel desde 1979, ano em que a República Islâmica foi estabelecida no país, levou diversos líderes a se pronunciarem pedindo moderação.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enfatizou a necessidade de evitar um agravamento da crise em uma série de ligações com seus homólogos de Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Turquia, Reino Unido e Alemanha, de acordo com declarações do Departamento de Estado.
Já o chanceler britânico, David Cameron, chamou o ataque de "um fracasso total", embora "imprudente e perigoso". A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, foi além quando questionada sobre um eventual direito de retaliação de Israel e disse que "o direito à autodefesa significa repelir um ataque". O presidente da França, Emmanuel Macron, também pediu que Israel evite uma escalada militar.
Na guerra de versões que permeia a guerra, Hagari, o porta-voz militar de Israel, disse que os mortos no bombardeio contra o consulado iraniano em Damasco estavam envolvidos em atividades de "terrorismo contra Israel", o que Teerã nega.
"O que sei é que os que morreram em Damasco eram membros da força Quds [ala da guarda responsável por operações no exterior]. Eram pessoas envolvidas em terrorismo contra o Estado de Israel", disse ele, sem atribuir responsabilidade a Tel Aviv na ofensiva. "Entre esses agentes terroristas estavam membros do Hezbollah e assessores iranianos. Não havia um único diplomata lá, pelo que eu saiba. Não sei de nenhum civil morto nesse ataque".
Militares israelenses disseram ainda que as ofensivas do Irã não desviariam o objetivo de Tel Aviv de eliminar o Hamas em Gaza e de resgatar os mais de cem reféns que continuam em cativeiros no território palestino. Nesta segunda, dezenas de bombardeios voltaram a atingir a cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa. Dezoito corpos foram retirados dos escombros, segundo a Defesa Civil local.
Após seis meses de guerra, 33.797 palestinos foram mortos nas ofensivas israelenses em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. A maior parte das vítimas, segundo líderes da facção, é de mulheres e crianças.