Conhecido como Iván Mordisco, principal comandante do grupo das dissidências das Farc, abandonou as negociações de paz na Colômbia, anunciou nesta terça-feira (16) o governo, que seguirá dialogando com outros líderes guerrilheiros. 

Mordisco, líder do Estado-Maior Central (EMC), "está fora da mesa (...) não sabemos onde está", disse em uma declaração à imprensa Camilo González, chefe da delegação do governo nas negociações que começaram no final de 2023. 

Segundo Bogotá, o grupo está dividido internamente, por isso negociará com outros líderes, embora os diálogos estejam "congelados" atualmente.

González apontou Andrey como o novo chefe da guerrilha nas discussões, uma vez que supostamente comanda mais de 50% dos 3.500 combatentes do EMC. 

Com cabelos longos e sempre adornado com joias luxuosas, "Andrey" era o porta-voz da organização ilegal. No entanto, não se sabe a extensão de seu poder.

Segundo especialistas, Mordisco controla o tráfico de drogas milionário e as rotas ilegais de mineração, sobretudo na Amazônia. Ele pertencia às Farc, mas nunca aceitou o acordo de paz de 2016 e permaneceu escondido.

O futuro de ambos os lados dissidentes é agora uma incógnita. "O EMC (...) deixa de existir ou pelo menos inicia uma disputa pela marca entre as diferentes facções que estavam agrupadas sob esse guarda-chuva", explicou à AFP o especialista em conflitos armados Jorge Mantilla.

- Semanas de caos -

Os diálogos começaram a se enfraquecer no dia 17 de março, quando o presidente Gustavo Petro decretou o fim do cessar-fogo bilateral em três departamentos do sudoeste do país, após o assassinato de um líder indígena por insurgentes.

Desde então, milhares de soldados foram destacados para o departamento de Cauca, região de cultivos de drogas e onde combatentes do EMC estariam atacando povos indígenas. 

A operação deixou pelo menos 10 guerrilheiros mortos. O grupo respondeu detonando carros-bomba, um deles na cidade de Cali, a terceira maior da Colômbia.

Na segunda-feira, Mordisco apareceu em um vídeo alertando o governo que o futuro das negociações dependia do início de uma nova trégua. Afirmou ainda que as comunidades indígenas se juntaram ao seu "exército revolucionário" por vontade própria. 

Nas últimas semanas, Petro declarou a Mordisco que se não assinasse o acordo de paz, seria abatido assim como Pablo Escobar. 

Na sexta-feira, Andrey admitiu em entrevista à revista Semana que o EMC tem "um problema de coordenação interna". 

"Há um problema interno quanto às formas de ver e interpretar o momento político do país. Há uma grande divisão nisso", declarou.

Para Mantilla, "a única saída que o governo terá será negociar com quem quiser ficar à mesa" e sob uma lógica de diálogo regional ou "territorializado".

- Sem entregar armas -

Neste momento, o fim de uma negociação também não está claro.

Segundo "Calarcá", outro comandante do EMC, sua organização estabelecerá condições "imóveis" para assinar a paz, como não entregar armas ou submeter-se à Justiça especial. 

"Se eu aceito que façam justiça contra mim no sentido de me acusarem de um crime por utilizar armas (...) estou negando quem sou", disse ele.

Petro é o primeiro presidente de esquerda a governar o país e está empenhado em uma solução pacífica para meio século de conflito armado. Desde que chegou ao poder em 2022, propôs a implementação de uma política de "Paz total", sob a qual abordou todos os grupos armados, embora as negociações tenham sofrido diversos reveses.

Atualmente está negociando com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional, em meio a violações das tréguas acordadas por ambos os lados que levaram ao congelamento do diálogo em distintas ocasiões.

O governo também anunciou, embora sem data prevista, negociações com a dissidente La Segunda Marquetalia, facção inimiga do EMC e liderada por Iván Márquez, ex-número dois das Farc.

Apesar dos esforços de paz do governo, a violência não diminui no país e o tráfico de drogas continua atingindo marcas históricas, segundo organizações internacionais.

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