Gabriela Brito, ou Lela MC, de 13 anos, tem uma carreira surpreendente na cena do hip-hop e uma vida que parece um filme: sobreviveu a um incêndio, fugiu da crise na Venezuela, cantou em ônibus para ganhar dinheiro e, atualmente, é uma estrela do rap na Colômbia.
Com cabelos longos até a cintura, aparelho nos dentes e roupas folgadas, Lela deixa de lado a timidez sempre que sobe ao palco ou grava um videoclipe. Ela se transforma em uma cantora prodígio que faz rap sobre a migração, a paixão pela música e temas adolescentes que cativam mais de 300.000 fãs nas redes sociais.
Aos seis anos, após a morte de sua avó, ela migrou de Caracas com sua família, de ônibus, assim como muitos dos três milhões de venezuelanos que chegaram à Colômbia fugindo do colapso econômico.
Suas primeiras músicas, no entanto, retratam as memórias de tempos menos encantadores:
"Não imagina as adversidades que passei / os obstáculos que encontrei no caminho (...) decidi migrar com o propósito de um futuro melhor / mas encontrei portas fechadas no caminho / muros erguidos", cantava alguns anos atrás nas linhas de ônibus colombianas, ao lado de seu padrasto Jesús Sanz, de 32 anos, que considera seu pai.
- Incêndio -
Os irmãos Gabriel e Gabriela Brito compartilham não apenas o nome e um vínculo familiar. As cicatrizes em seus braços lembram o dia em que uma explosão quase os matou, em 2017. Sua avó faleceu no incêndio causado por um vazamento de gás.
"O herói Gabriel", na época com 8 anos, se jogou em cima da irmã de 6 anos para protegê-la das chamas, relatou a mãe Hayleén Volcán. As crianças ficaram com queimaduras graves. Gabriel passou vários meses no hospital e seis dias no CTI. "Sua vida é um milagre", afirmou.
Com a morte de sua avó, as crianças não tinham com quem ficar na Venezuela. Isso as obrigou a se reunir com sua mãe, que havia migrado para a Colômbia alguns meses antes.
Hoje, Gabriel tem 15 anos e acompanha Lela no palco. Embora seja tímido, está aprendendo a usar a controladora e é o DJ de sua irmã.
"Lela" é um nome artístico inspirado no irmão que lhe salvou a vida. Quando era pequeno, tinha dificuldade para pronunciar Gabriela, então a chamava de "Lela".
- Do ônibus ao palco -
Quando chegou à Colômbia, "foram meses vendendo café, vendendo em um semáforo, vendendo água, vendendo amendoim", contou a mãe de 35 anos.
Até que um dia, junto com seu pai, Sanz, que fazia rap nas linhas de ônibus de Bogotá para levar dinheiro para casa, decidiu "pegar o microfone", lembrou. Tinha oito anos quando alguém a gravou cantando uma música sobre o drama da migração e o vídeo viralizou na internet.
A canção composta pelo pai chegou aos ouvidos do produtor Jairo Peñaranda, conhecido como Mctematico no mundo do hip-hop. Ele se tornou o empresário de Lela, profissionalizou suas habilidades e encaminhou sua carreira artística.
Ele impôs uma única condição: que Gabriela e seu irmão mais velho voltassem à escola e recebessem acompanhamento psicológico. A falta de escolaridade afeta 29,7% das crianças venezuelanas na Colômbia, segundo a autoridade estatística.
Em 2021, lançaram sua primeira música. Pouco a pouco, ela aprendeu técnica vocal, modulação e desenvoltura no palco. "Sou uma pessoa que não fala", mas "depois da primeira música é como se eu me perdesse, com minha atitude eu aproveito o show", diz Lela MC sorrindo.
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