Um nome praticamente desconhecido para a opinião pública reúne a oposição da Venezuela para as eleições presidenciais de 28 de julho.
O diplomata Edmundo González Urrutia, de 74 anos, aceitou no domingo (21) sua candidatura pela principal aliança opositora, a Plataforma Unitária, após a inabilitação da vencedora das primárias desta coalizão, María Corina Machado, e o bloqueio da inscrição de sua substituta, Corina Yoris.
"Ao se tratar de uma pessoa desconhecida na opinião pública, isto apresenta um desafio muito importante [para a oposição]: que o país consiga conhecê-lo e que o associe" à possibilidade de uma eventual "mudança política", disse à AFP Giulo Cellini, diretor da consultoria LOG Consultancy, em referência a González Urrutia.
Machado obteve uma vitória arrasadora nas primárias da Plataforma Unitária no ano passado, mas o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) ratificou em janeiro uma sanção que a impede de exercer cargos públicos.
A dirigente liberal apoiou então Yoris, cuja inscrição foi bloqueada no sistema do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), conforme denunciou a coalizão.
E a Plataforma Unitária, que havia inscrito provisoriamente González Urrutia com a ideia de substitui-lo depois, o ratificou na sexta-feira em meio a um intenso debate que ameaçava reabrir velhas feridas dentro da oposição.
"Começa uma semana desafiadora e determinante para nosso país. Agradeço a todos os membros da Plataforma Unitária pelo apoio firme e corajoso, e sobretudo a cada venezuelano que confia e que, desde já, está pronto para a mudança", publicou nesta segunda-feira (22) o diplomata em seu perfil no X (@EdmundoGU), que saltou de cerca de 7 mil seguidores para mais de 64 mil. Ele ainda não apareceu em público.
- 'Riscos e desafios' -
Organizações políticas da Plataforma Unitária tinham inscrito Manuel Rosales, governador do estado petroleiro de Zulia e rival do finado ex-presidente Hugo Chávez.
Yoris, na disputa interna, chegou a tachar Rosales de "Judas", mas o governador renunciou à disputa no sábado em favor da 'candidatura unitária' de González Urrutia.
Essa candidatura, apesar do consenso, "não estará isenta de riscos e desafios", afirma Cellini, que ressalta que "o primeiro obstáculo" será o CNE permitir aos partidos que apoiavam Rosales "fazer a mudança" nas cédulas eleitorais.
Delegados do partido de Rosales compareceram nesta segunda à sede do CNE, em Caracas, para denunciar "a impossibilidade" de acesso ao sistema automático do órgão eleitoral e apresentar "administrativamente" um documento de adesão à candidatura de González. Contudo, em um vídeo nas redes sociais, afirmam que não foram recebidos pelas autoridades.
Analistas acreditam que Machado, de 56 anos, tem grande possibilidade de transferir suas intenções de voto para um candidato unitário, quando Nicolás Maduro busca um terceiro mandato que o projetaria para 18 anos no poder, apesar de sua baixa popularidade nas pesquisas.
A inabilitação de Machado foi reprovada por Estados Unidos e União Europeia. Washington, de fato, reimpôs sanções ao setor de petróleo e gás da Venezuela depois de flexibilizar essas medidas no ano passado.
"O verdadeiro perigo eleitoral de Maduro é a unidade, não um candidato ou candidata em particular, por isso que o conhecimento ou desconhecimento do ator que represente essa mudança é um problema secundário para a oposição", considera Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisa Datanálisis.
Além disso, o baixo perfil poderia ser "o maior ativo" de González Urrutia, publicou no X o cientista político e professor universitário Omar Vásquez Heredia, pois "implica um nível muito baixo de rejeição e muita possibilidade de crescimento ante o rechaço a Maduro".
O prazo para mudanças de candidatura nas cédulas eleitorais venceu no sábado, mas o CNE o prorrogou por 72 horas.
- Espada de Dâmocles -
Há obstáculos judiciais: Luis Ratti, um empresário autodenominado antichavista, mas rachado com a oposição tradicional, recorreu em março ao TSJ para "solicitar a anulação da candidatura da MUD" (Mesa da Unidade Democrática, antiga aliança opositora que derivou na Plataforma Unitária).
A corte ainda não respondeu a esse pedido.
Não obstante, o TSJ entregou nesta segunda o controle de um dos principais partidos da Plataforma Unitária, Primeiro Justiça, a um dirigente expulso dessa organização e tachado por seus líderes de "colaboracionista" do chavismo, o deputado e candidato presidencial José Brito.
Sentenças similares foram emitidas em 2019 e 2020 contra outras organizações que integram a coalizão.
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