O presidente francês, Emmanuel Macron, alertou, nesta quinta-feira (25), que a Europa "pode morrer" em um mundo no qual "as regras do jogo" foram modificadas, defendendo o reforço de sua "soberania" com uma defesa crível ou uma nova política comercial.

"Devemos ser lúcidos de que atualmente a nossa Europa é mortal, pode morrer", declarou Macron, em um discurso na Universidade de Sorbonne em Paris sobre o futuro do continente com base em "Uma Europa poderosa, próspera e humanista".

Embora muitas de suas propostas façam referência à União Europeia, formada por 27 países, sua visão é de uma entidade político-geográfica mais ampla, presa entre a rivalidade sino-americana e confrontada com uma Rússia mais agressiva. 

O discurso na universidade francesa é visto como uma tentativa de impulsionar sua aliança centrista nas eleições europeias de junho, além de seguir a linha de outro muito importante que fez sobre a Europa há sete anos.

Desde então, o mundo mudou: o Reino Unido deixou a UE, a pandemia de covid-19 confinou o mundo e a invasão da Rússia à Ucrânia colocou outra guerra em primeiro plano no continente.

Como em 2017, o presidente de 46 anos, que após o fim do mandato da alemã Angela Merkel é considerado o líder mais importante da UE, defendeu uma Europa mais soberana e estrategicamente mais autônoma.

"Ficaram para trás os dias em que a Europa comprava sua energia e fertilizantes da Rússia, exportava sua produção para a China e delegava sua segurança aos Estados Unidos", assegurou Macron. 

Durante o discurso de quase duas horas, detalhou quais decisões a Europa deveria adotar "agora" pra evitar ficar "excluída" na próxima década nos quesitos da ciberdefesa, inteligência artificial ou transição ecológica.

Com uma Rússia sem "limites" claros e com um Irã que se aproxima da bomba atômica, apresentou uma Europa "cercada" face às grandes potências regionais e alertou para o crescente questionamento da "democracia liberal" europeia. 

Assim, fez um apelo à UE para que tenha uma defesa "crível", e um "empréstimo europeu" para impulsionar sua indústria militar e reforçar o pilar europeu dentro da Otan, defendendo o fornecimento de um escudo anti-mísseis.

"Ainda somos muito lentos e pouco ambiciosos", declarou, advogando por uma Europa forte que "se faça respeitar", "garanta sua segurança", "proteja suas fronteiras" e retome sua "autonomia estratégica".

Segundo ele, o continente não pode ser um "vassalo" dos Estados Unidos, reiterando que é "indispensável" que "a Rússia não ganhe a guerra de agressão na Ucrânia" para a própria segurança europeia.

Defendeu ainda uma Europa como "força de equilíbrio" entre a China e os EUA, que coopere com as potências emergentes e com a América Latina, África e outras regiões do mundo. 

O chefe do governo alemão, Olaf Scholz, destacou os "bons impulsos" no discurso do presidente francês para que "a Europa continue forte".

- "Regras do jogo" -

Macron alertou que as "regras do jogo" mudaram e mesmo Pequim e Washington "já não respeitam" as normas do comércio mundial.

"Não pode funcionar se formos os únicos no mundo que respeitam as regras do comércio tal como foram escritas há 15 anos, se os chineses e os americanos já não as respeitam", afirmou.

Embora tenha defendido a "abertura" do mercado europeu de 450 milhões de consumidores, reforçou a "revisão" da política comercial da UE para que suas regras sanitárias, trabalhistas e climáticas, e seus "interesses" sejam respeitados.

Neste sentido, afirmou que esta nova política baseada na "reciprocidade" deve seguir o modelo do acordo entre a UE e o Canadá, em comparação aos acordos da "velha geração", como o negociado por décadas com o Mercosul. 

Em 2024, a UE viverá um ano de renovação de seus órgãos comunitários, que se inicia com as eleições para o Parlamento Europeu em 9 de junho, às quais se seguirão negociações para a escolha de uma nova Comissão Europeia.

Na França, a candidata oficialista, Valérie Hayer, entretanto, não lidera as pesquisas, ficando muito atrás do postulante da extrema direita, Jordan Bardella, e com o novo nome da esquerda, Raphaël Glucksmann, se aproximando dela. 

Apesar disso, Macron comemorou que "ninguém mais se propõe a sair da Europa" ou da zona do "euro", em referência à extrema direita, mas criticou que ainda querem matar o projeto europeu, minando-o por dentro.

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