A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, chegou nesta quinta-feira (4) à China, na sua segunda visita ao país em menos de um ano, para abordar a política de subsídios industriais de Pequim, considerada "injusta" por Washington. 

O principal nome da área econômica da administração de Joe Biden chegou à cidade de Guangzhou, metrópole do sul da China, símbolo do poder industrial do gigante asiático. 

Seu avião pousou às 18h, horário local (07h no horário de Brasília), no aeroporto de Guangzhou, onde foi recebida pelo embaixador americano em Pequim, Nicholas Burns, e pelas autoridades chinesas. 

Com horas de reuniões bilaterais, almoços de trabalho e até um passeio de barco por Guangzhou, o objetivo de Yellen é levar a mensagem de Washington ao círculo íntimo do presidente chinês, Xi Jinping, disse um funcionário do Tesouro americano. 

Em Guangzhou, a secretária marcou reuniões com empresários americanos residentes no país, autoridades locais e com o vice-primeiro-ministro, He Lifeng.

Em seguida, viajará para Pequim, onde tem reuniões agendadas com o seu homólogo Lan Fo'an, o primeiro-ministro, Li Qiang, e o governador do Banco Central, Pan Gongsheng. 

A sua viagem anterior, há oito meses, ajudou a estabilizar uma relação conturbada entre as duas maiores economias do mundo, em particular por meio da criação de grupos de trabalho bilaterais. 

Desta vez, Yellen quer discutir as preocupações americanas sobre o impacto competitivo dos subsídios chineses a indústrias como a energia solar ou os veículos elétricos, nas quais os Estados Unidos tentam desenvolver a produção com a ajuda de subsídios.

No passado, o apoio estatal de Pequim a indústrias como o alumínio levou a "um investimento excessivo significativo e a um excesso de capacidade que as empresas chinesas tentaram exportar a baixo custo", explicou Yellen na semana passada. 

"Vemos agora um excesso de capacidade em novas indústrias, como a energia solar, os veículos elétricos ou as baterias de íons de lítio", alertou. 

Sobre a possibilidade de impor tarifas para pressionar a China, Janet Yellen disse "não querer descartar nenhum meio" para proteger estas indústrias.

- "Sabemos para quem ligar" -

Mas se for necessário tomar medidas comerciais, é importante que Pequim compreenda que estas não são "uma série de medidas antichinesas", insistiu o subsecretário do Tesouro dos EUA para Assuntos Internacionais, Jay Shambaugh. 

No final de 2023, Yellen garantiu que Washington continuaria a exigir mais clareza na política econômica chinesa. As dificuldades do mercado imobiliário e o endividamento das autoridades municipais levantam receios de repercussões globais.

As relações econômicas e a cooperação entre os dois países são "sem dúvida mais fortes agora do que eram há dois anos", disse um funcionário do Tesouro. 

De acordo com Brent Neiman, assessor de Yellen, os bancos centrais de ambos os países compararam particularmente os seus modelos de risco climático. 

"Conhecemos os nossos homólogos, conhecemos o seu sistema, eles conhecem o nosso e, francamente, se algo der errado, sabemos para quem ligar", afirmou à AFP.

- Semicondutores -

Segundo Bill Bishop, que publica o boletim informativo digital Sinocism, "a deterioração" das relações sino-americanas chegou ao fim no ano passado. 

"Mas não há nada que indique uma mudança mais sustentável" que reverta a tendência, acrescentou. 

Pequim continua irritada com os esforços para restringir o acesso da China aos semicondutores de alta tecnologia. Mas com as eleições americanas em novembro, "nenhum dos lados planeja lançar negociações ou iniciativas bilaterais", opinou Patricia Kim, pesquisadora da Brookings Institution. 

"Pequim, como muitas outras capitais, está provavelmente em modo de espera para ver o que acontece" nas eleições de novembro: se vencerá o democrata Joe Biden ou o republicano Donald Trump, cujo último governo foi marcado por um forte aumento das tensões comerciais.

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