O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, conversarão por telefone nesta quinta-feira (4), depois que Washington expressou "indignação" pela morte de sete trabalhadores humanitários em um bombardeio israelense na Faixa de Gaza.

"Posso confirmar que o presidente Biden e o primeiro-ministro Netanyahu falarão amanhã", disse na quarta-feira à AFP um funcionário do governo americano, confirmando uma informação antecipada pela imprensa. 

Biden e Netanyahu conversaram pela última vez em 18 de março, em um contexto já complicado devido ao agravamento da situação humanitária na Faixa de Gaza, cercada e com a população à beira da fome, onde 33.037 palestinos morreram em quase seis meses de guerra, segundo o balanço mais recente divulgado pelo Hamas.

As relações entre os dois aliados ficaram ainda mais tensas desde que Washington permitiu a aprovação no Conselho de Segurança da ONU, no fim de março, de uma resolução que pede um "cessar-fogo imediato", algo que ainda não teve efeito no território palestino.

As mortes, na segunda-feira em um bombardeio israelense, de sete trabalhadores humanitários da ONG americana World Central Kitchen aumentou o descontentamento dos Estados Unidos.

O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, expressou na quarta-feira ao homólogo israelense, Yoav Gallant, sua "indignação" com as mortes dos voluntários, segundo o Pentágono.

- "Preocupação" com Rafah -

Austin também destacou a necessidade de adoção de medidas "imediatas" e "concretas" para proteger os trabalhadores humanitários e os civis palestinos em Gaza, em particular no norte do território.

A morte dos voluntários aumentou as preocupações com uma possível operação militar israelense em Rafah, sul do território, perto da fronteira com o Egito, que está fechada.

Netanyahu repete que deseja iniciar uma ofensiva contra esta cidade, que considera o "último reduto" do Hamas e onde estão aglomerados quase 1,5 milhão de palestinos deslocados pelos combates, segundo a ONU.

A guerra começou em 7 de outubro, após o ataque sem precedentes do Hamas em território israelense, quando 1.170 pessoas foram assassinadas, a maioria civis, segundo um novo balanço da AFP baseado em dados oficiais. Israel afirma que mais de 250 pessoas foram sequestradas e 130 delas continuam em cativeiro em Gaza, incluindo 34 que as autoridades temem que foram mortas.

O Exército israelense informou nesta quinta-feira que prossegue com as operações no centro de Gaza e em Khan Yunis, no sul do território.

Testemunhas afirmaram que, além dos bombardeios, combates também aconteciam no centro e sul do território. Ao menos 62 pessoas morreram nas últimas 24 horas, segundo o Hamas. 

Israel anunciou a suspensão temporária das licenças nas "unidades de combatentes" do Exército, ao destacar que as tropas do país "estão em guerra" e sua mobilização é "revisada constantemente com base nas necessidades" na linha de frente.

- "Menos que uma lata de feijão" -

No norte do território, a situação humanitária é extremamente difícil.

"As entregas de farinha demoram e há escassez (...) Também há escassez de verduras, carnes e outros produtos essenciais, como legumes, lentilhas e grão-de-bico", disse um morador da Cidade de Gaza, que preferiu não revelar o nome

"Dormimos na rua, no frio, na areia, com muitos problemas para conseguir comida para nossas famílias, especialmente para as crianças pequenas", disse outro morador de Gaza.

Segundo um novo estudo da ONG Oxfam, a população do norte da Faixa sobrevive com 245 calorias por dia, ou seja, "menos que uma lata de feijão, o que representa menos de 12% das necessidades calóricas diárias em média". 

"Israel escolheu deliberadamente fazer com que os civis passem fome", disse Amitabh Behar, diretor executivo da Oxfam International, citado no comunicado da ONG.

Após o ataque que matou sete de seus funcionários, a ONG World Central Kitchen, que distribuía refeições diariamente em Gaza, anunciou a suspensão de suas operações, o que aumentou o temor sobre a situação alimentar de quase 2,4 milhões de moradores.

A organização Human Rights Watch (HRW) afirmou que o bombardeio israelense que matou os trabalhadores humanitários - seis estrangeiros e um palestino - tem "as características de um ataque aéreo de precisão, o que indica que o Exército de Israel tinha a intenção de atacar os veículos".

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