Joe Biden mencionou pela primeira vez, nesta quinta-feira (4), a possibilidade de condicionar a ajuda dos Estados Unidos a Israel até que o governo de Benjamin Netanyahu adote medidas tangíveis para responder à catástrofe humanitária em Gaza.
Os dois líderes conversaram por telefone após a morte na segunda-feira de sete voluntários da ONG World Central Kitchen em um ataque israelense.
A conversa por telefone ocorre em meio à deterioração da situação humanitária na Faixa de Gaza, sitiada e à beira da fome, onde 33.037 palestinos morreram em seis meses de guerra, de acordo com o último balanço do grupo palestino Hamas.
Biden pediu um "cessar-fogo imediato" após o ataque "inaceitável" ao comboio dos funcionários da ONG e à situação humanitária em Gaza.
O presidente democrata enfrenta uma crescente pressão em um ano eleitoral por seu apoio à guerra de Israel em Gaza. Seus aliados estão pressionando para que ele considere condicionar os bilhões de dólares em ajuda militar que os Estados Unidos enviam ao aliado a cada ano à escuta de Netanyahu aos apelos de moderação.
Biden instou Netanyahu a "anunciar e implementar uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para abordar os danos aos civis, o sofrimento humanitário e a segurança dos funcionários" de ONGs, informou a Casa Branca em comunicado.
"Ele deixou claro que a política dos Estados Unidos em relação a Gaza será determinada pela avaliação que fizermos da ação imediata de Israel sobre essas medidas", acrescenta.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse que os Estados Unidos querem ver medidas nas "próximas horas e dias", incluindo um aumento "drástico" na ajuda a Gaza.
Kirby reconheceu que a ligação ocorreu em meio a uma "crescente frustração" com Netanyahu, embora tenha reiterado que o apoio dos Estados Unidos à segurança de Israel é "inabalável".
Um senador democrata havia pedido a Biden que considerasse a possibilidade de condicionar a enorme ajuda militar que Washington fornece a Israel.
"Eu acredito que chegamos a esse ponto", disse Chris Coons, senador democrata do estado natal do presidente, Delaware, à CNN.
Se Israel iniciar uma ofensiva em larga escala em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, sem planos para proteger os civis deslocados pelos combates, "eu votaria para condicionar a ajuda a Israel", disse Coons. "Eu nunca tinha dito isso antes".
Aparentemente, ele não é o único a pressionar o presidente, pois a primeira-dama Jill Biden também o faz.
"Pare, pare agora", disse ela ao presidente sobre o crescente número de vítimas civis em Gaza, comentou o próprio Biden a um convidado durante uma reunião com membros da comunidade muçulmana na Casa Branca, segundo o The New York Times.
- 'Indignado' -
Biden tem apoiado a guerra desencadeada por Israel em retaliação a um ataque brutal do Hamas em 7 de outubro em seu território, que resultou em 1.170 mortes, na maioria civis, de acordo com um levantamento da AFP com base em dados oficiais.
Segundo Israel, mais de 250 pessoas foram sequestradas e 130 delas continuam em cativeiro em Gaza. Acredita-se que 34 já tenham falecido.
Em sua declaração mais contundente desde o início da guerra, Biden disse na terça-feira que está "indignado e inconsolável" com a morte dos sete funcionários da ONG, entre os quais há um cidadão americano-canadense. Israel afirma que o ataque não foi intencional.
Mas as reclamações não são acompanhadas de medidas concretas.
Sinal de que tudo continua igual, o governo Biden aprovou a transferência de milhares de bombas adicionais para Israel no mesmo dia do ataque que matou os funcionários da WCK, informou o The Washington Post nesta quinta-feira.
Muitos democratas temem que essa situação prejudique as chances de reeleição de Biden nas eleições de novembro contra o republicano Donald Trump, devido à raiva dos eleitores muçulmanos e muitos jovens.
"Até que haja consequências substanciais, essa indignação não serve para nada. Para Bibi [Netanyahu], obviamente não importa o que os Estados Unidos digam, mas sim o que fazem", afirmou Ben Rhodes, ex-assessor do ex-presidente Barack Obama, na rede social X.
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