A Justiça argentina determinou nesta quinta-feira (11) que os atentados à embaixada de Israel e à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1992 e 1994, respectivamente, foram ordenados pelo Irã, uma decisão considerada histórica pela comunidade judaica, informou a imprensa.
O texto, a cargo da Câmara de Cassação Penal Federal II, também apontou o movimento xiita Hezbollah como autor, declarou o Irã um "Estado terrorista" e chamou o atentado à Amia de crime contra a humanidade, segundo a imprensa.
"O Hezbollah executou uma operação que respondia a um plano político, ideológico, revolucionário e sob o mandato de um governo, de um Estado", disse à Rádio Con Vos o juiz Carlos Mahiques, referindo-se ao Irã.
A decisão "é histórica, única na Argentina", ressaltou ao canal LN+ o presidente da Delegação de Associações Israelitas Argentinas, Jorge Knoblovitz. Além disso, "abre a possibilidade de uma ação no Tribunal Penal Internacional, porque ficou claramente estabelecido que o Irã é um Estado terrorista."
- Decisão paralela -
A decisão, tomada por três juízes, foi anunciada no âmbito de uma decisão paralela, também tomada hoje, que revisa o caso das irregularidades que ocorreram durante a investigação e que ratifica a absolvição de Carlos Telleldín, primeiro detido pelo atentado à Amia, e as condenações por irregularidades durante a investigação.
A decisão paralela, de 711 páginas, examina o contexto geopolítico de ambos os ataques e determina que a sua motivação, embora não tenha sido a única, respondeu à política externa do então presidente Carlos Menem (1989-1999).
"Teve origem, principalmente, na decisão unilateral do governo - motivada por uma mudança na política externa ocorrida entre 1991 e 1992 - de cancelar três contratos com o Irã de fornecimento de material e tecnologia nuclear", informa o texto, ao qual a AFP teve acesso.
A Argentina sofreu dois atentados graves, ambos em Buenos Aires: em 1992, contra a sede da embaixada israelense, que causou 29 mortes, e em 1994 contra o prédio da Amia, o pior da história argentina, que deixou 85 mortos.
Em 2006, promotores argentinos acusaram o grupo pró-Irã Hezbollah de ter realizado o atentado contra Amia e funcionários iranianos de terem ordenado o ataque, o que Teerã nega. Não houve detidos nesse caso, e os motivos do atentado ainda não haviam sido esclarecidos.
A investigação judicial aponta que os principais suspeitos do ataque eram membros do governo iraniano, entre eles o ex-presidente Ali Rafsanjani. O caso foi tomado por denúncias de desvio de pistas, condenações por encobrimento e processos anulados.
Um julgamento sobre o atentado à Amia foi concluído em 2019, com penas leves para funcionários da Justiça e do governo do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), declarados culpados de "encobrir" o ataque. O motivo do ocultamento de provas e do desvio das investigações não foi determinado.
A comunidade judaica da Argentina é a maior da América Latina e reúne cerca de 300 mil pessoas.
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