Há um ano, Lubomir perdeu uma perna ao pisar em uma mina no leste da Ucrânia, mas agora está de volta à linha da frente para ajudar os seus companheiros de armas.
Na época, o acidente afetou psicologicamente os soldados da 103ª brigada, mas não enfraqueceu a determinação deste trabalhador de 31 anos.
"Uma parte de você se foi. Você enxerga e pensa diferente. Você sente mais medo, mas precisamos continuar lutando", explica o jovem Lubomir.
Nas últimas semanas, o Exército ucraniano enfrentou a escassez de munições e o cansaço dos combatentes que lutam contra o Exército russo há mais de dois anos.
A falta de ajuda militar ocidental, diz a Ucrânia, força os seus soldados a permanecer na defensiva enquanto as forças russas atacam em múltiplas frentes.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, reiterou nos últimos dias que a Ucrânia corre o risco de perder a guerra se o Ocidente não entregar rapidamente novos recursos militares.
Ao mesmo tempo, a Ucrânia luta para recrutar voluntários para o front.
Para evitar o esvaziamento das fileiras, alguns soldados gravemente feridos, como Lubomir, decidiram voltar ao combate após sua recuperação.
"Se a Rússia parar de atirar, a guerra acaba. Se pararmos de atirar, estaremos perdidos", resume.
O Exército russo ocupa quase 20% do território ucraniano e a economia russa está inteiramente focada no esforço de guerra.
No sábado, o comandante-chefe das forças ucranianas, Oleksandr Sirski, reconheceu que a situação neste front, no Donbass (leste), havia se "deteriorado consideravelmente".
Para tentar responder à escassez de homens, a Ucrânia adotou uma nova lei sobre recrutamento, após meses de debates acalorados na sociedade.
Mas o texto causou escândalo devido à supressão de última hora de uma cláusula que previa a liberação dos militares que cumpriram 36 meses de serviço, um duro golpe para os soldados que estão no front desde fevereiro de 2022.
- O front da maior guerra na Europa desde 1945 -
No leste da Ucrânia, membros de uma brigada de ataque zombam das licenças que deveriam obter. "Quais férias? Aqui descansamos, mudamos de posição e nos lavamos", explica à AFP Denis, comandante de uma seção de artilharia, de 27 anos, de uma base perto de Pokrovsk, um pouco atrás do front.
Assim como outros, insiste na falta de munições para combater os russos. "Há um ano podíamos lançar cerca de 200 projéteis por noite, agora depende da situação... Talvez entre 10 e 20", lamenta.
"É muito provável que tenhamos esgotado as nossas reservas. Tudo depende de quais países ainda têm munições", sublinha Anatoly Malik, comandante de outra seção de artilharia.
Além das dificuldades logísticas, o uso devastador de bombas planadoras pela Rússia teve um efeito negativo na moral das tropas. Estas bombas aéreas, contendo entre 250 kg e uma tonelada de explosivos, podem ser lançadas por aeronaves que permaneçam fora do alcance dos meios de defesa aérea ucranianos.
O Exército russo as utilizou nas sangrentas batalhas pela cidade de Avdiivka, conquistada por Moscou em meados de fevereiro, após anos de confrontos.
"Se cair uma bomba de 400 a 500 kg, não sobra nada", diz Denis, segundo quem Avdiivka foi "simplesmente apagada" do mapa.
Além destas bombas, a ameaça de drones assassinos permanece constante. "Devemos estar sempre alertas, acordados e controlar absolutamente tudo", detalha Vadim Kochegarov, comandante cuja unidade opera no sudeste da Ucrânia, perto de Orikhiv.
Este militar, de 29 anos, era motorista antes da guerra, baseado em Kharkiv, alvo frquente de bombardeios russos, especialmente nas últimas semanas. "Vim defender a nossa pátria, não há outra opção", afirma.
A falta de ajuda ocidental, em um contexto de disputas políticas, é incompreendida nas linhas da frente da maior guerra da Europa desde 1945. Kiev e os seus soldados consideram-se o baluarte contra as ambições imperialistas do presidente russo Vladimir Putin.
Lubomir lança um alerta a todos aqueles que estariam tentados a esquecer o conflito na Ucrânia. "Se continuarem assim, verão (a guerra) com os próprios olhos. Ou serão seus filhos", enfatiza.
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