O ataque limitado ao Irã nesta sexta-feira (19), atribuído por autoridades americanas a Israel, sugere que os dois arqui-inimigos poderiam procurar uma desescalada, embora as relações entre os dois sejam explosivas, dizem os especialistas.
A comunidade internacional teme que décadas de tensões entre Israel e a República Islâmica se transformem em um confronto direto, tendo como pano de fundo a guerra entre o Exército israelense e o movimento islamista palestino Hamas, apoiado por Teerã, na Faixa de Gaza.
Segundo autoridades americanas citadas por várias emissoras do país, as explosões registradas nesta sexta-feira no centro do Irã são uma resposta de Israel aos ataques lançados por Teerã contra o território israelense no último fim de semana.
Israel prometeu responder ao ataque sem precedentes, realizado com cerca de 300 mísseis e drones, cuja maioria foi interceptada. A comunidade internacional, por sua vez, apelou à contenção.
Nesta sexta-feira, o Irã parecia querer atenuar a situação, salientando que o suposto ataque israelense não envolveu mísseis e que as suas instalações nucleares estavam seguras.
"Parece que estamos em um ponto em que ambos os lados procuram romper o atual ciclo de escalada, com Israel executando um ataque muito limitado para demonstrar que respondeu aos ataques iranianos, e Teerã rapidamente minimizando o incidente para não ser forçado a responder", analisou Julien Barnes-Dacey, do Conselho Europeu de Relações Internacionais, um think tank.
Hasni Abidi, do Centro de Estudos e Pesquisa sobre o Mundo Árabe e Mediterrâneo, com sede em Genebra, sublinhou que os dois ataques iranianos e israelenses foram "quase simétricos", o que poderá levá-los a pensar que podem deixar por isso mesmo.
"O ataque israelense atingiu uma base aérea que havia sido usada como plataforma para lançar mísseis e drones contra Israel na semana passada", disse. E "os israelenses tiveram o cuidado de não atingir posições nucleares importantes na mesma província, em Isfahan", acrescentou.
A situação pode apaziguar Teerã, que "não tem interesse em que esta tensão continue", uma vez que a sua "prioridade absoluta" é continuar com o seu programa nuclear, essencial para a sobrevivência do regime, indicou este especialista em Oriente Médio.
Durante o seu ataque a Israel no fim de semana passado, o Irã também foi capaz de avaliar "as capacidades de defesa aérea de Israel", assim como a mobilização "sem precedentes" dos Estados Unidos e, mais amplamente, do campo ocidental ao qual se juntou a Jordânia, acrescentou.
Prudência
O Irã lançou mais de 350 projéteis contra Israel no fim de semana. Quase todos eles foram interceptados.
Embora existam sinais que apontam para uma desescalada, os especialistas preferem permanecer cautelosos e indicam que há incerteza em torno dos objetivos de Israel.
"Na minha opinião, Israel está em uma lógica de escalada e não de desescalada", disse Agnès Levallois, do Instituto de Pesquisa e Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio.
"Atacar o Irã é uma forma de obter um apoio internacional muito maior", analisou, referindo-se ao fato de alguns países árabes acreditarem que Teerã e o seu programa nuclear são por si só um fator de desestabilização regional.
A especialista destacou ainda a natureza imprevisível do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, cujo governo decidiu responder ao ataque iraniano apesar das advertências de Washington.
"Há coisas que parecem óbvias e razoáveis, mas no terreno temos um ator (...) que toma decisões que parecem ir contra os próprios interesses de Israel", disse.
Israel também intensificou os seus ataques contra o movimento pró-iraniano libanês Hezbollah no sul do Líbano, o que poderia levar este último a querer "reparar a indignação causada ao Irã", cujos vários oficiais foram recentemente mortos por Israel.
"A situação regional como um todo permanece incrivelmente febril, com o confronto entre estes dois países mais direto do que nunca", declarou Julien Barnes-Dacey.
Em um cenário mais otimista, Agnès Levallois acredita ser possível que os Estados Unidos tenham aceitado que Israel respondesse desta forma, para evitar uma reação mais forte.
Porque, segundo ela, "os riscos são muito grandes" para os Estados Unidos, para os países do Golfo e para o próprio Israel.