A Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) na Faixa de Gaza tem "problemas de neutralidade política", mas Israel ainda não forneceu "evidências" de que alguns de seus membros estão ligados a "organizações terroristas", conclui um relatório apresentado ao chefe das Nações Unidas nesta segunda-feira (22).
No entanto, a UNRWA é "insubstituível e indispensável" para o desenvolvimento humano e econômico dos palestinos, afirmam os autores do relatório encomendado pelo secretário-geral da organização, António Guterres, a um grupo independente presidido pela ex-ministra das Relações Exteriores da França Catherine Colonna.
"A UNRWA é crucial no fornecimento de ajuda humanitária vital e de serviços essenciais, especialmente na saúde e na educação, aos refugiados palestinos em Gaza, na Jordânia, Líbano, Síria e Cisjordânia", sublinha o relatório, que, em contrapartida, reconhece que "os problemas ligados à neutralidade persistem".
Israel denunciou que 12 funcionários da agência participaram diretamente nos ataques sem precedentes do grupo islamista Hamas em 7 de outubro em solo israelense, que deixaram 1.170 mortos, sobretudo civis, segundo contagem da AFP com base em dados oficiais.
As autoridades israelenses afirmam que a agência emprega "mais de 400 terroristas" em Gaza.
Após a denúncia de Israel, alguns países anunciaram a suspensão da ajuda financeira à UNRWA, que emprega mais de 30 mil pessoas em toda a região onde opera.
O relatório cita casos "de funcionários que expressam publicamente suas opiniões políticas, livros do país anfitrião com conteúdo problemático (...), sindicalistas politizados que ameaçam a gestão (da agência) e interrompem as operações humanitárias", de acordo com o grupo independente.
"Com base em uma lista de março de 2024 que contém os números de identidade dos palestinos, Israel afirmou publicamente que um número significativo de funcionários da UNRWA são membros de organizações terroristas. No entanto, (...) ainda não provou isso", alertam os autores.
Criada pela Assembleia Geral da ONU em 1949, a agência "é a espinha dorsal das operações humanitárias" em Gaza, como reiterou o seu diretor, Philippe Lazzarini, ao Conselho de Segurança na semana passada, denunciando uma campanha "insidiosa" para encerrar suas operações.
"O desmantelamento da UNRWA teria repercussões duradouras", alertou, sobretudo porque iria "agravar a crise humanitária em Gaza e acelerar o início da fome".
A fome já ameaça o norte do território palestino, onde quase 34 mil pessoas, a maioria civis, morreram desde o início da ofensiva israelense, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
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