Derrick Evans participou, em janeiro de 2021, da invasão ao Capitólio dos Estados Unidos, juntamente com outras centenas de apoiadores de Donald Trump que se negavam a aceitar a derrota do republicano nas eleições presidenciais. Agora, eles estão em campanha para fazer parte do mesmo corpo legislativo.

Evans não está sozinho: em todo o país, uma dúzia de pessoas envolvidas no ataque ao Capitólio, um evento que abalou a confiança na democracia americana, disputaram ou buscam ocupar cargos locais ou nacionais neste ano.

Evans disputa as primárias republicanas do seu estado para ocupar uma cadeira no Congresso americano. Em campanha na Virgínia Ocidental, um estado rural conhecido por suas minas de carvão, seu conservadorismo e sua beleza natural, ele classifica sua experiência em 6 de janeiro de 2021 como algo positivo, um motivo pelo qual os americanos deveriam votar nele.

Em entrevista à AFP, o hoje investidor imobiliário descreveu-se como um preso político. Então membro recém-empossado da Câmara de Delegados da Virgínia Ocidental, ele transmitiu ao vivo sua entrada no prédio do Congresso. Vestindo um capacete preto de motoqueiro, ele proclamou: "Derrick Evans está no Capitólio!"

A ação de Evans lhe valeu uma pena de três meses de prisão por crime grave de desordem civil. Ele se declarou culpado, mas insistiu em que estava no Capitólio como membro independente da imprensa.

"O Estado Profundo veio à minha casa e me arrancou da minha mulher e dos meus quatro filhos", disse Evans, referindo-se a teorias da conspiração sobre a existência de um órgão administrativo obscuro contra Trump, que exerceria um poder secreto sobre a sociedade americana.

- Caças ou caçadores? -

A página inicial do site de sua campanha não deixa dúvidas sobre o passado de Evans. Ele proclama, com orgulho: "Prisioneiro do 6J candidato ao Congresso dos EUA", referindo-se à data da invasão.

Evans prometeu que, quando ocupar sua cadeira no Congresso, "os caçadores se tornarão caças", uma linguagem que parece repetir a ameaça de Trump de tomar medidas de represália contra inimigos políticos se for reeleito.

Evans não é o único participante do 6 de Janeiro a usar a invasão ao Capitólio como argumento eleitoral. Jason Riddle, candidato ao Congresso nas primárias republicanas em New Hampshire, descreve-se como "um preso político do 6 de Janeiro libertado recentemente com uma mensagem de esperança".

Outros, como Kimberly Dragoo, já perderam suas eleições. Ele buscava um cargo em um conselho de educação do Missouri, mas recebeu sua sentença - duas semanas de prisão - na semana passada.

Trump prometeu anistiar os invasores do 6 de Janeiro se voltar ao poder. Seus críticos afirmam que ele tenta dar uma nova imagem pública aos acontecimentos sangrentos daquele dia, ao apresentar os invasores como vítimas "da mesma perseguição política" que ele.

- 'Fugir ou aceitar' -

Indagado sobre por que decidiu tirar proveito da sua experiência de 6 de Janeiro, Evans respondeu: "Não o fiz. Foi a mídia das notícias falsas. Eu tinha duas opções: fugir ou aceitar. Escolhi aceitar."

"Eu me arrependo de ter acreditado que tínhamos direitos naturais à liberdade de expressão concedidos por Deus, e que ainda tínhamos uma Constituição neste país", disse Evans, ressaltando que, para os eleitores da Virgínia Ocidental que conheceu, seus problemas com a Justiça não têm relevância: "Quando descobrem que sou o candidato que foi preso em 6 de janeiro, eles me cumprimentam, agradecem, dizem que vão votar em mim."

Nas primárias republicanas de 14 de maio na Virgínia Ocidental, Evans vai enfrentar outra apoiadora de Trump, a congressista Carol Miller. Ele diz que é difícil acreditar que o ex-presidente republicano pode ser derrotado em novembro pelo atual presidente, Joe Biden.

Se o democrata permanecer no poder, "vou ensinar minha família a viver como os amish", grupo religioso protestante que evita grande parte da civilização moderna, disse Evans. "E se preparem para o colapso deste país."

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