Palestinos empacotam pertences para sair de Rafah, seguindo recomendação do Exército de Israel -  (crédito:  AFP)

Palestinos empacotam pertences para sair de Rafah, seguindo recomendação do Exército de Israel

crédito: AFP

O Exército de Israel iniciou nesta segunda-feira (6) uma operação para retirar 100.000 pessoas do leste de Rafah, no extremo sul de Gaza, após semanas de advertências sobre o início de uma grande ofensiva e apesar das expectativas sobre a continuidade das negociações para uma trégua entre Israel e Hamas.

 

As persistentes divergências entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas para um acordo que permita um cessar-fogo dos combates, após quase sete meses de guerra em Gaza, ficaram evidentes durante as negociações do fim de semana no Cairo. 

 

Catar, Egito, Estados Unidos atuam como mediadores há vários meses para alcançar uma trégua que permita a libertação dos reféns israelenses que permanecem em cativeiro em Gaza. As negociações devem prosseguir nesta segunda-feira em Doha, que deve receber a visita do diretor dos serviços de inteligência de Washington, William Burns.

 

 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu que invadirá Rafah, com ou sem trégua, apesar das preocupações expressadas pelo governo dos Estados Unidos, seu principal aliado, e pela comunidade internacional sobre o destino dos civis refugiados nesta cidade. 

 

O Exército de Israel informou durante a manhã que iniciou "uma operação de alcance limitado para retirar temporariamente os residentes na parte leste de Rafah".

 

"A estimativa é de quase 100.000 pessoas", afirmou um porta-voz militar ao ser questionado sobre quantas pessoas estão sendo retiradas da cidade na fronteira com o Egito.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que quase 1,2 milhão de pessoas vivem em Rafah.

 

 

O Exército israelense pediu à população do leste de Rafah que siga para "as zonas humanitárias ampliadas".

 

Um morador de Rafah disse à AFP que algumas pessoas receberam mensagens de voz nos seus telefones com pedidos para que deixassem a área e mensagens de texto com um mapa indicando para onde seguir.

 

O Exército anunciou que expandiu a zona humanitária para Al Mawasi, uma cidade localizada na costa, a quase 10 quilômetros de Rafah.

 

"Hospitais de campanha, tendas com alimentos, água, remédios e outros itens" foram instalados em Al Mawasi, afirma o comunicado militar.

 

- "Estamos em suspense"-

 

O ciclo de negociações do fim de semana terminou sem avanços concretos e os dois lados trocaram acusações de intransigência. O Hamas continua insistindo que o cessar-fogo deve ser definitivo e Israel mantém a promessa de aniquilar o movimento palestino, que em 7 de outubro executou um ataque sem precedentes em território israelense que desencadeou a guerra.

 

Na data, os comandos do grupo islamita atacaram o sul de Israel e assassinaram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram quase 250, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.

 

 

As autoridades de Israel calculam que, após uma troca de reféns por presos palestinos em novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza e que 35 morreram.

 

A ofensiva de represália iniciada por Israel em resposta ao ataque deixou 34.683 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino governado pelo Hamas.

 

Durante a noite, os bombardeios israelenses prosseguiram contra Rafah e deixaram 16 mortos, segundo fontes locais. Os moradores afirmaram à AFP que temem o aumento da violência em caso de fracasso das negociações para uma trégua.

 

"Estamos em suspense", declarou Naja Shaat, 59 anos.

 

Um casal que mora em Rafah disse à AFP que soube da operação de retirada quando acordou após uma noite de angústia sob os bombardeios. 

 

"Minha família e eu, 13 pessoas, não sabemos para onde ir", declarou à AFP Abdul Rahman Abu Jazar, 36 anos, antes de destacar que as zonas "humanitárias" designadas pelo Exército israelense já estão "superlotadas".

 

O primeiro-ministro israelense afirmou no domingo que aceitar as "exigências" do Hamas para acabar com a guerra em Gaza seria uma "derrota terrível para o Estado de Israel" e o equivalente a uma "rendição".

 

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Netanyahu de "sabotar os esforços dos mediadores".

 

O Exército israelense anunciou no domingo o fechamento da passagem de Kerem Shalom, que dá acesso à Faixa de Gaza – e por onde entra parte da ajuda humanitária – após um ataque com foguetes, que posteriormente foi reivindicado pelo braço armado do Hamas, as Brigadas Ezedín al Qasam.

 

As forças israelenses afirmaram que três soldados morreram e 12 ficaram feridos no ataque, três deles em estado grave. 

 

O movimento libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, anunciou que disparou "dezenas de foguetes" nesta segunda-feira contra uma base israelense no Golã sírio, zona ocupada por Israel, em represália a um ataque contra a região de Bekaa, no leste do Líbano.