O Exército israelense ordenou, nesta segunda-feira (6), a evacuação do leste de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, depois de semanas alertando que iniciaria uma invasão, enquanto a Defesa Civil do território palestino anunciou o bombardeio de dois bairros da cidade.
Os bombardeios israelenses, aéreos e de artilharia, "começaram ontem à noite e intensificaram-se esta manhã", disse Ahmed Redwan, porta-voz da Defesa Civil palestina, especificando que dois bairros atacados, Al Shuka e Al Salam, estão entre aqueles que o Exército pediu à população civil que abandonasse algumas horas antes.
O anúncio da evacuação dificulta os esforços de mediação empreendidos por Catar, Egito e Estados Unidos para alcançar um cessar-fogo entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, que permitiria a libertação dos reféns israelenses mantidos em cativeiro em Gaza após quase sete meses de guerra.
O Exército israelense informou esta manhã que havia iniciado "uma operação de alcance limitado para retirar temporariamente os moradores na parte leste de Rafah", disse um porta-voz.
"A estimativa é de quase 100 mil pessoas", disse um porta-voz militar ao ser questionado sobre quantas pessoas estão sendo retiradas desta cidade que faz fronteira com o Egito.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que cerca de 1,2 milhão de pessoas vivem em Rafah.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu que invadirá Rafah, com ou sem tréguas, apesar das preocupações manifestadas pelos Estados Unidos, seu principal aliado, e pela comunidade internacional sobre o destino dos civis abrigados nesta cidade.
Esta ordem de evacuação "prenuncia o pior: mais guerra e fome", declarou nesta segunda-feira o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, que instou Israel a abster-se de lançar uma ofensiva terrestre.
Um morador de Rafah disse à AFP que algumas pessoas receberam mensagens de voz nos seus telefones convidando-as a sair e mensagens de texto com um mapa indicando para onde ir.
"Os habitantes estão saindo aterrorizados, em pânico", disse Osama al-Kahlut, representante do Crescente Vermelho palestino no leste de Rafah, que estima que a área designada pelo Exército israelense afeta cerca de 250 mil pessoas.
O Exército declarou ter expandido "a zona humanitária para Al Mawasi", uma cidade localizada na costa a cerca de dez quilômetros de Rafah.
Apesar do anúncio, o porta-voz do Hamas, Abdul Latif al Qanou, indicou que o movimento continua com "negociações de forma positiva e aberta para chegar a um acordo".
- "Não sabemos para onde ir" -
O ciclo de negociações do fim de semana terminou sem avanços concretos e os dois lados trocaram acusações de intransigência. O Hamas continua insistindo que o cessar-fogo deve ser definitivo e Israel mantém a promessa de aniquilar o movimento palestino, que em 7 de outubro executou um ataque sem precedentes em território israelense que desencadeou a guerra.
Na data, os comandos do grupo islamista atacaram o sul de Israel e assassinaram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram quase 250, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
As autoridades de Israel calculam que, após uma troca de reféns por presos palestinos em novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza e que 35 morreram.
A ofensiva de represália iniciada por Israel em resposta ao ataque deixou 34.735 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino governado pelo Hamas.
Durante a noite os bombardeios sobre Rafah continuaram, deixando 16 mortos e pouco depois do anúncio a Defesa Civil palestina informou que o Exército israelense "intensificou" os seus ataques.
Um casal que mora em Rafah disse à AFP que soube da operação de retirada quando acordou após uma noite de angústia sob os bombardeios.
"Minha família e eu, 13 pessoas, não sabemos para onde ir", declarou à AFP Abdul Rahman Abu Jazar, 36 anos, antes de destacar que as zonas "humanitárias" designadas pelo Exército israelense já estão "superlotadas".
- "Estagnação das negociações" -
O primeiro-ministro israelense afirmou no domingo que aceitar as "exigências" do Hamas para acabar com a guerra em Gaza seria uma "derrota terrível para o Estado de Israel" e o equivalente a uma "rendição".
O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Netanyahu de "sabotar os esforços dos mediadores".
O Exército israelense anunciou no domingo o fechamento da passagem de Kerem Shalom, que dá acesso à Faixa de Gaza – e por onde entra parte da ajuda humanitária – após um ataque com foguetes do Hamas que deixou quatro soldados mortos.
Este bombardeio provocou uma "estagnação nas negociações" para uma trégua, indicou o veículo egípcio Al Qahera News, próximo dos serviços de inteligência.
Nesta segunda-feira, o chefe dos serviços de inteligência dos EUA, William Burns, participará em uma reunião de emergência em Doha com o primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman al Thani, "diante da ausência de progressos", indicou no domingo uma fonte próxima das negociações.
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