O movimento islamista palestino Hamas informou, nesta segunda-feira (6), ter aceito uma proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza, horas depois de o Exército israelense ordenar a evacuação do leste de Rafah, no sul do território, após semanas alertando para o lançamento de uma invasão da cidade, onde vivem amontoados mais de um milhão de deslocados.
"Ismail Haniyeh, chefe do escritório político do Hamas, conversou por telefone com o primeiro-ministro catari, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani, e com o ministro egípcio de Inteligência, Abbas Kamel, e informou-lhes que o Hamas aprovou sua proposta de acordo de cessar-fogo" em Gaza, segundo um comunicado publicado na página do movimento islamista na internet.
"Agora a bola está no campo de Israel", disse um dirigente do Hamas sob a condição do anonimato. Segundo um alto funcionário, Israel estava "examinando" a proposta de trégua.
O Exército israelense reiterou seu chamado para evacuar Rafah e assinalou que a medida faz parte da preparação para uma "operação terrestre" na cidade.
Na manhã desta segunda, o Exército informou ter iniciado "uma operação de alcance limitado para evacuar temporariamente os moradores da parte oriental de Rafah".
Para Israel, a operação nesta cidade fronteiriça com o Egito é essencial para "destruir os últimos quatro batalhões" do movimento islamista em território palestino.
Um porta-voz militar disse que "cerca de 100 mil pessoas" estavam sendo evacuadas de Rafah, onde a ONU estima que vivam cerca de 1,2 milhão de pessoas.
O Exército declarou ter ampliado "a área humanitária para Al Mawasi", localidade situada na costa, a cerca de dez quilômetros de Rafah.
A ONU assegurou que este local "já está superpovoado" e que é "impossível realizar uma evacuação maciça desta magnitude de forma segura".
"É desumano. Contraria os princípios fundamentais do direito internacional humanitário e das leis dos direitos humanos", afirmou, por outro lado, o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk.
- 'Mais guerra e fome' -
Esta ordem de evacuação "pressagia o pior: mais guerra e fome", disse, nesta segunda, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, instando Israel a não lançar a ofensiva terrestre.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu que invadirá Rafah, apesar das preocupações expressas pelos Estados Unidos, seu principal aliado, e pela comunidade internacional sobre o destino dos civis refugiados nesta localidade.
A Casa Branca informou, nesta segunda-feira, que o presidente americano, Joe Biden, "reiterou sua clara posição" contra esta operação em uma conversa por telefone com Netanyahu.
A presidência da Autoridade Palestina pediu aos Estados Unidos "que intervenha para evitar este massacre".
Um representante do Crescente Vermelho palestino no leste de Rafah assegurou que "os habitantes estão evacuando apavorados, em meio ao pânico", estimando que a região designada pelo Exército israelense afeta cerca de 250 mil pessoas.
"Milhares" de pessoas estão abandonando a região após ataques aéreos israelenses, acrescentou posteriormente Osama al Kahlut.
Vários residentes contaram à AFP que souberam da evacuação assim que acordaram, após uma noite marcada por bombardeios israelenses que deixaram 16 mortos, segundo os socorristas.
Ahmed Redwan, porta-voz da defesa civil palestina, especificou que dois dos bairros atacados, Al Shuka e Al Salam, estão entre aqueles que o Exército israelense pediu para evacuar.
O Hamas advertiu em nota que Israel se prepara para lançar uma ofensiva terrestre em larga escala "sem considerar a catástrofe humanitária na Faixa nem o destino dos prisioneiros inimigos em Gaza", em alusão aos reféns israelenses.
- Ciclo de negociações -
A guerra teve início em 7 de outubro, quando comandos islamistas lançaram um ataque no sul de Israel, no qual morreram 1.170 pessoas, em sua maioria civis, e sequestraram cerca de 250, segundo um balanço baseado em dados israelenses.
As autoridades de Israel estimam que, após uma troca de reféns por presos palestinos em novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 35 teriam morrido desde então.
A ofensiva em represália lançada por Israel já deixou 34.735 mortos em Gaza, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
O ciclo de negociações no Cairo, mediadas por Estados Unidos, Catar e Egito, para tentar costurar um cessar-fogo e a libertação dos reféns israelenses em Gaza terminou no domingo sem avanços concretos.
O Hamas continuava insistindo em que um cessar-fogo deve ser definitivo e Israel mantém sua promessa de aniquilar o movimento islamista.
O premiê israelense afirmou no domingo que aceitar as "exigências" do Hamas para pôr fim à guerra em Gaza equivaleria a "se render".
nl-jd/it/zm/an/mb/hgs/es/mvv/am