Harold Terens e Jeanne Swerlin dizem que sua história de amor é "melhor que a de Romeu e Julieta". Ele tem 100 anos; ela, 96, e em junho vão se casar na França, oitenta anos depois de ele conhecer o país durante a Segunda Guerra Mundial.
Terens, um veterano americano, será homenageado em 6 de junho no 80º aniversário do Desembarque da Normandia, uma operação que mudou o conflito.
Dois dias depois, Jeanne e ele se casarão em Carentan-les-Marais, perto das praias onde milhares de soldados desembarcaram naquele dia de 1994, em uma cerimônia presidida pelo prefeito dessa localidade.
"Essa é uma história de amor como nunca tinha ouvido antes", assegura Terens.
Durante a entrevista na casa dela em Boca Ratón (Flórida), ambos se olham apaixonado, se dão a mão e se beijam como adolescentes.
Harold "é uma pessoa incrível. Gosto de tudo nele. É bonito e beija muito bem", disse Swerlin.
O noivo é um homem alegre e espirituoso, dotado de uma memória fantástica. Lembra-se de datas, cidades e acontecimentos. Falar com ele é como olhar para um livro de história vivo.
Pouco depois de completar 18 anos, o Japão bombardeou a base naval americana de Pearl Harbor e ele, como muitos jovens de seu país, quis se alistar ao Exército.
Sonhava ser piloto da Força Aérea, mas seu daltonismo o impediu e acabou se tornando um especialista em código Morse.
Aos 20 anos de idade, Terens partiu para a Inglaterra em um navio. Lá, ele foi designado para quatro caças P47 Thunderbolt, para os quais deveria garantir uma boa comunicação terra-ar.
"Estávamos perdendo a guerra porque perdíamos muitos aviões e muitos pilotos", recorda. "Esses pilotos eram meus amigos e os mataram. Eram todos jovens".
Sua companhia perdeu a metade de seus 60 aviões durante o Desembarque da Normandia. Pouco depois, Terens viajou como voluntário para essa região do norte da França para transportar para Inglaterra prisioneiros de guerra alemães e aliados libertados.
- Uma missão secreta -
Um dia Terans recebeu ordens de partir e um envelope com a instrução de não abri-lo até chegar ao seu destino. Começou um périplo que o levou à Ucrânia soviética após passar por Casablanca, Argélia, Tunísia, Líbia, Cairo, Bagdá e Teerã.
Quando chegou à Ucrânia, um oficial russo o comunicou que ia participar de uma missão secreta. Tinha que entregar bombas, combustível e comida para os bombardeiros B-17 que aterrissavam lá após decolar da Inglaterra e atacar campos petrolíferos da Romênia que abasteciam a Alemanha Nazista.
A operação durou 24 horas até que os alemães descobriram a base aliada na Ucrânia e a atacaram.
Terans ficou em um lugar desconhecido, contraiu disenteria e sobreviveu graças à ajuda de uma família de fazendeiros locais.
Ao voltar à Inglaterra, se salvou por alguns segundos quando a dona de um pub se negou a lhe servir uma bebida porque ia fechar. Decepcionado, deixou o local, caminhou duas quadras e um foguete alemão explodiu o estabelecimento.
O americano voltou a sua Nova York natal depois que os nazistas capitularam em 8 de maio de 1945, mas antes voou até a Alemanha para repatriar prisioneiros de guerra aliados.
- "Pessoa mais sortuda do mundo" -
Após a guerra, ele se casou com Thelma, com quem viveu por 70 anos e teve duas filhas e um filho.
O veterano trabalhou para uma grande empresa britânica e, quando ambos se aposentaram, estabeleceram-se na Flórida.
A morte de Thelma em 2018 afundou Terens. “Minha existência consistiu em três anos de pena de mim mesmo e de luto pela minha falecida esposa”, lembra ele.
No entanto, estava prestes a ter um novo sopro de vida. Em 2021, um amigo em comum o apresentou a Swerlin, uma mulher brilhante que também era viúva.
Não houve paixão. Em seu primeiro encontro, Terens não conseguia nem olhar para ela, mas um segundo encontro mudou tudo e eles não se separaram mais desde então.
“Nunca amei ninguém como amo essa garota”, diz Terens. “Ela ilumina minha vida. Ela torna tudo mais bonito, faz a vida valer a pena", acrescenta ele.
O veterano, que recebeu a mais alta distinção da França, a Legião de Honra, do presidente Emmanuel Macron, em 2019, está ansioso para se casar na Normandia após as comemorações do Desembarque.
Cercados por familiares e amigos, eles dirão “sim” durante uma cerimônia na qual a neta de Terens cantará “I will always love you”, de Whitney Houston, e sua bisneta de dois anos espalhará pétalas de flores pela sala.
“Provavelmente sou a pessoa mais sortuda do mundo”, diz Terens. “Eu tenho tudo. Tenho cem anos de idade e ainda estou vivo.
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