Cubanos e russos marcharam nesta sexta-feira (10) ao longo de uma avenida de Havana por ocasião do Dia da Vitória, que comemora o triunfo da União Soviética contra a Alemanha nazista em 1945, depois de o presidente Miguel Díaz-Canel ter desejado sucesso a Moscou na guerra contra a Ucrânia. 

“É importante conhecer a história, preservar a história, tirar conclusões e saber se projetar neste mundo turbulento”, disse à AFP Ramón Álvarez, médico cubano e filho de um russo que segurava a foto de seu tataravô, um combatente da Segunda Guerra Mundial, e que compareceu ao evento com sua filha pequena.

Com bandeiras da Rússia e de Cuba e carregando fotografias de familiares, centenas de pessoas marcharam pela primeira vez ao longo da Quinta Avenida, uma importante via no oeste de Havana, até a embaixada russa.

A inusitada manifestação ocorreu um dia depois de Díaz-Canel ter acompanhado o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou, no desfile da vitória soviética contra os nazistas em 1945, em um momento de plenas tensões com as potências ocidentais pela guerra na Ucrânia.

Durante a sua estadia na Rússia, o presidente cubano desejou "sucesso" a Moscou no conflito e condenou "a manipulação geopolítica levada a cabo pelo governo dos Estados Unidos e a ameaça da Otan de se aproximar das fronteiras russas", segundo publicou a agência de notícias russa TASS na quinta feira.

“Desejamos à Rússia sucesso na condução da operação militar especial”, disse Díaz-Canel. 

A organização cubana dissidente Frente Democrático de Concertación afirmou em comunicado que "condena veementemente" as declarações de seu presidente, apelando à Constituição que, afirmou, condena "a agressão armada e qualquer interferência ou ameaça à integridade dos Estados". 

Díaz-Canel retornou nesta sexta-feira a Cuba depois de uma viagem de quatro dias, na qual abordou as prioridades da agenda bilateral e participou no Conselho Supremo da União Econômica Eurasiática, organização formada em 2000 por cinco ex-repúblicas soviéticas, da qual Cuba é um observador.

No entanto, não foi divulgado publicamente se ele discutiu com Moscou o recrutamento de cubanos para participarem ao lado do exército russo na guerra contra a Ucrânia.

Pelo menos 17 pessoas foram presas em setembro em Cuba por este motivo, várias delas acusadas de “mercenarismo”. A relação política entre os dois antigos aliados nas primeiras décadas da revolução cubana tem se revitalizado desde novembro de 2022, quando o presidente cubano se reuniu com Putin na capital russa.

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