A justiça argentina realizou 27 buscas, a maioria em cozinhas comunitárias, após denúncias de extorsão envolvendo seus responsáveis, no momento em que crescem as reclamações contra o governo de Javier Milei pela suspensão da entrega de alimentos em milhares de pontos de assistência.

A operação apura, com base em denúncias anônimas e escutas telefônicas, se houve pelo menos 12 casos de extorsão para entrega de ajuda em troca de participação em manifestações contra o governo.

"Os suspeitos canalizaram os fundos ilícitos provenientes da extorsão através de 'cooperativas', sendo desconhecido o destino final desse dinheiro", afirmou o Ministério da Segurança em comunicado.

As organizações sociais afirmam que as denúncias procuram desacreditar e perseguir os seus líderes, cuja maioria é crítica ao governo.

As operações, sem prisões, foram realizadas na madrugada de segunda para esta terça-feira (14) em diversos pontos da capital argentina e em sua periferia.

As buscas incluíram residências particulares e sedes de partidos, como o escritório do Partido Obrero (esquerda) na capital argentina, segundo seu líder, Eduardo Belliboni, que propôs "expulsar" da organização qualquer pessoa que tivesse cometido extorsão.

O caso foi aberto no momento em que crescem os conflitos e as exigências de mais assistência social, bem como a retomada da entrega de alimentos a cozinhas comunitárias administradas por ONGs.

Depois de tomar posse em 10 de dezembro, o governo ultraliberal de Milei suspendeu a entrega de alimentos a milhares de cozinhas comunitárias, enquanto audita a destinação dos recursos que recebiam.

O Ministério do Capital Humano, responsável pela assistência social, informou que metade das cozinhas comunitárias não puderam ser auditadas porque não estão registradas ou não funcionam como tal.

"Planos antipobreza geram mais pobreza", escreveu o porta-voz presidencial Manuel Adorni nesta terça-feira, citando Milei.

A Argentina atravessa uma grave crise econômica com colapso da atividade industrial, milhares de demissões no Estado e na iniciativa privada, queda do consumo e uma inflação anual próxima dos 300%. Metade da população de 47 milhões de pessoas enfrenta a pobreza.

Sindicatos, universitários, pequenos e médios empresários, aposentados e outros setores afetados pelas políticas de ajuste de Milei realizam protestos diariamente.

Uma casa onde foram realizadas buscas em Escobar, ao norte de Buenos Aires, pertence a Carlos Fernández, líder do movimento esquerdista Frente de Organizações em Luta (FOL), que denunciou a violência na operação.

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