Um tribunal criminal da Guatemala concedeu, nesta quarta-feira (15), liberdade condicional ao jornalista José Rubén Zamora, crítico anticorrupção e preso desde 2022 por lavagem de dinheiro em um julgamento polêmico, mas ele seguirá na prisão por outro caso. 

"Por unanimidade [o tribunal] é da opinião de que devem ser concedidas medidas substitutivas [prisão domiciliar] ao senhor José Rubén Zamora", disse, ao ler o veredicto, a presidente do Nono Tribunal de Sentença, Verónica Ruiz. 

Zamora, de 67 anos, é o fundador do extinto jornal El Periódico. Ele defende sua inocência e afirma que a acusação foi uma retaliação por suas publicações sobre corrupção no governo do então presidente de direita Alejandro Giammattei (2020-2024).  

A renomada Fundação Gabo da Colômbia anunciou na terça-feira que lhe concederá o Prêmio Gabo 2024 em reconhecimento à excelência, "em virtude de suas mais de três décadas de trabalho profissional tenaz e corajoso". 

Ao concordarem com a liberdade provisória, as três juízas que compuseram o tribunal na capital consideraram que não há perigo de fuga de Zamora, nem a possibilidade de ele obstruir a investigação ou o processo.

- Acostumado à prisão -

Entretanto, o jornalista não poderá deixar imediatamente a prisão onde está recluso, um quartel militar na Cidade da Guatemala, até que outro caso contra ele por obstrução de Justiça seja resolvido

Após a decisão de hoje, Zamora disse que espera a data para a audiência do outro processo, que considera que será "arquivado e poderei ir para minha casa", caso contrário "imediatamente vamos pedir medidas substitutivas" para obter a liberdade.

"Já estou acostumado com o lugar onde estou, as crises se institucionalizam, se tornam normais. Minha vida na prisão é normal, tenho minha rotina, já me acostumei bastante", comentou, antes de ser escoltado pelos guardas penitenciários.

Zamora chegou ao tribunal algemado, vestido com terno preto e gravata.

E sobre o prêmio da Fundação Gabo, declarou: "o recebo com alegria e humildade [...], em nome da equipe do El Periódico, da imprensa independente da Guatemala e em nome da imprensa regional" centro-americana.

Nesta quarta, José Carlos Zamora, filho do jornalista, disse, em uma entrevista à AFP em Londres, que seu pai vê a prisão "como parte de seu trabalho e ajudou a expor os abusos de poder na Guatemala".

José Carlos, que vive em Miami junto com sua mãe e seu irmão desde a prisão de seu pai, afirmou que ele sofreu "tortura" no cárcere durante o governo Giammattei.

O Ministério Público tentou suspender a audiência desta quarta, contestando a suposta parcialidade de dois magistrados, mas Ruiz abriu a audiência, argumentando que não deveria haver "mais atrasos" no processo.

"Duvidamos da administração da Justiça e da imparcialidade e objetividade com que o tribunal poderia decidir", disse o chefe da Promotoria Especial contra a Impunidade, o polêmico promotor Rafael Curruchiche, que foi sancionado pelos Estados Unidos.

Zamora foi condenado a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro em 14 de junho de 2023 em um julgamento controverso e criticado pela comunidade internacional, mas foi absolvido das acusações de tráfico de influência e extorsão.

A sentença foi anulada quatro meses depois por um tribunal de apelações, que ordenou um novo julgamento. No entanto, ainda não foi definida uma data devido a recursos pendentes.

Zamora foi detido em 29 de julho de 2022 e atribuiu sua prisão a represálias por suas publicações em El Periódico sobre corrupção no governo Giammattei.

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