O tráfico de drogas é um "problema global", cuja "violência" já começa a ser vista na Europa, afirmou o presidente equatoriano, Daniel Noboa, em entrevista à AFP.
Localizado entre a Colômbia e o Peru — os maiores produtores mundiais de cocaína —, o Equador deixou de ser uma ilha de paz pare se tornar um centro logístico para o envio de drogas, sobretudo cocaína, para a Europa e os Estados Unidos.
Contudo, a violência associada ao narcotráfico começou a aumentar no continente europeu, como na França, onde dois agentes morreram na terça-feira (14) em um ataque contra um veículo penitenciário que transportava o suposto líder de uma rede criminosa.
PERGUNTA: Europa e Estados Unidos são os principais destinos da cocaína produzida na Colômbia e Peru, que transita por seu país. Você considera que os Estados Unidos e a Europa fazem o suficiente contra o tráfico de drogas?
RESPOSTA: Eu gostaria que fizessem mais. Há um problema global. Não é apenas um país. Não é só o Equador, a Colômbia, o Peru. A região está atualmente mergulhada no tráfico de drogas e na violência, e parte dessa violência já está sendo observada na Europa.
Deveria haver um esforço conjunto porque se problema puder ser interrompido na origem, acredito que muitos podem ser resolvidos, mas grande parte da solução não é apenas uma solução de defesa ou de segurança, mas de resolver questões sociais.
A ajuda não é apenas nos dar um fuzil ou uma pistola. É nos ajudar com bolsas de estudo para jovens de 18 anos que hoje não têm oportunidade de estudar, é investir no Equador em áreas de desenvolvimento para que haja emprego, em programas de habitação digna porque gera emprego na construção e melhora a vida das famílias.
P: Você fala de esforços globais, que medidas concretas Europa e Estados Unidos poderiam aplicar?
R: Pedimos aos Estados Unidos que nos ajudem com o controle da fronteira norte, com a Colômbia, e também para atender a fronteira sul, especialmente na região de El Oro, em direção ao Peru.
Tem gente que vem de avião para o Equador e sai a pé para o norte, atravessa a fronteira com a Colômbia, de lá para Darién, até chegar ao México. A mesma rota da droga está se tornando de tráfico de seres humanos, violência, imigração e um problema estrutural em todo o continente.
P: A agência das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC) alertou há 10 dias que a ameaça do crime organizado aumentou "de forma brusca" nos últimos meses no Equador. Você considera que sua política contra o crime não teve efeitos? Outras ações seriam necessárias?
R: Deve ser reforçada. Reduzimos o número de mortes de inocentes (...) Mas é uma guerra constante, são 22 grupos altamente armados, totalizando 40 mil pessoas. É maior que o nosso próprio Exército, que tem 36 mil pessoas e a nossa polícia, cerca de 60 mil. Isto não é um problema de gangues ou algo de bairro, é um problema transnacional, com muito dinheiro.
P: Os cartéis mexicanos operam no Equador. Você acha que a crise diplomática com o México em relação ao ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas afetará o trabalho conjunto no combate a esses cartéis?
R: Nós queremos ter um diálogo fluido e de paz com o México sem que haja intervenção de um lado ou de outro. Se houver criminosos condenados, também não permitiremos que a Justiça seja contornada desta forma.
A pessoa que tentou pedir asilo e posteriormente chegar ao México é uma pessoa que foi condenada por dois crimes, de acordo com as leis equatorianas de governos anteriores. Foi alguém a quem foram dadas medidas alternativas para ter prisão domiciliar.
Ele foi se esconder em uma embaixada. É o equivalente a alguém estar preso, fugir e de lá se refugiar numa embaixada.
Acredito que seria melhor se voltássemos a ter relações diplomáticas com o México para o combate ao narcotráfico, uma vez que os grupos que operam no Equador são cartéis mexicanos.
P: O seu governo já havia manifestado anteriormente o seu desejo de superar o impasse. Como fazê-lo? A reabertura de consulados fechados no México poderia ajudar?
R: Estamos dispostos a conversar sobre muitas coisas. Há muito tempo promovemos um acordo de livre comércio com o México. Queríamos fortalecer as relações, mas não me parece, pessoalmente nem ao próprio governo, que a única condição e forma de restabelecer uma relação com o México seja dando-lhes um criminoso.
P: O seu país garantiu na Corte Internacional de Justiça que o ataque ocorreu em circunstâncias "excepcionais". Você entende as críticas internacionais ao ataque?
R: Acho que vai acabar sendo esclarecido na Justiça, se a própria embaixada for desnaturalizada. Confiamos em que teremos razão. No momento em que é concedido asilo a um criminoso, as coisas começam a envolver intervenção em assuntos nacionais, especialmente na justiça nacional, e não concordamos.
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