O território francês da Nova Caledônia registrou uma noite "mais tranquila e pacífica", apesar de alguns incidentes, no quarto dia de protestos violentos contra uma reforma do censo eleitoral, disse nesta sexta-feira (17, noite de quinta em Brasília) o representante do Estado francês neste arquipélago do Oceano Pacífico.

Os protestos começaram na segunda-feira, em resposta a uma reforma do censo eleitoral promovida pelo governo francês que, segundo os líderes do povo autóctone kanak, diluirá sua influência nas instituições do território.

Os distúrbios, com episódios de saques, incêndios e tiroteios, deixaram cinco mortos e levaram o governo francês a decretar um estado de urgência e a enviar tropas para o território.

"O estado de urgência permitiu, pela primeira vez desde a segunda-feira, retornar a uma situação mais tranquila e pacífica em Noumea [a capital do arquipélago], apesar dos incêndios de uma escola e de duas empresas", informou o Alto Comissário da República em comunicado.

Na quinta-feira, as autoridades reportaram uma quinta vítima relacionada com a crise: um gendarme que foi morto acidentalmente por um colega durante uma missão. Antes disso, foram registrados os óbitos de três civis e de outro gendarme que foi baleado.

O representante de Paris no território confirmou a chegada de aproximadamente 1.000 efetivos de segurança na noite de quinta para sexta para reforçar o dispositivo de mais de 1.700 agentes já mobilizados.

O alto comissário ressaltou que, apesar da melhora, "as medidas de proibição de reunião, de porte de armas e venda de álcool, bem como o toque de recolher das 18h às 6h" seguiam vigentes. Também continua proibido o TikTok, a rede social que estaria sendo usada pelos desordeiros.

Situado entre a costa leste da Austrália e as ilhas Fiji, este arquipélago colonizado pela França no século XIX goza de um status especial graças ao Acordo de Noumea de 1998, que permitiu a transferência de numerosas competências de Paris.

Mas o acordo também congelou o censo para as eleições provinciais neste território, nas quais só podem participar os eleitores inscritos até 1998 e seus descendentes.

A reforma proposta por Paris prevê incluir as pessoas radicadas ali há pelo menos dez anos, mas os independentistas consideram que isso vai reduzir a influência do povo originário kanak.

O texto foi aprovado na quarta-feira pela Assembleia Nacional em Paris, mas necessita ser ratificado em uma sessão conjunta das duas câmaras do Parlamento francês para entrar em vigor.

bur-md-pa/lgo/ib/dbh/dga/rpr/am