O Japão é um dos últimos países do mundo a permitir a caça comercial de baleias, uma prática controversa que é defendida como parte da identidade nacional, e um novo navio baleeiro de 9.300 toneladas partiu da costa nipônica na terça-feira (21). 

No arquipélago, a carne destes mamíferos marinhos pode ser degustada em filé ou em sashimi e é considerada por alguns uma iguaria, apesar de ambientalistas criticarem o seu consumo. 

O novo navio, batizado de “Kangei Maru”, tem “sua própria unidade de processamento, onde a carne é processada antes de ser refrigerada”, explicou Ryosuke Oba, gerente do restaurante Nisshin Maru, localizado na cidade portuária de Shimonoseki, especializado nesta carne. 

"Este navio é como uma fábrica. Essa é a sua principal característica", disse à AFP Oba, cujo restaurante leva o nome do antecessor de "Kangei Maru". 

O último baleeiro japonês, que chegou a ser perseguido por ativistas durante uma de suas viagens, havia se aposentado no ano passado, após três décadas de atividade. Agora, Tóquio inaugura um navio ainda maior para substituí-lo. 

Até a retirada do Japão da Comissão Baleeira Internacional em 2019, o país aproveitou uma disposição deste acordo que permite a caça científica às baleias.

Agora, o Japão retomou a caça comercial às baleias nas suas próprias águas, uma prática que apenas dois outros países do mundo, a Noruega e a Islândia, permitem, para além de algumas isenções concedidas aos povos indígenas.

- "Parte da identidade" - 

O "Kangei Maru" partiu de Shimonoseki em uma expedição de vários meses ao longo da costa nordeste do Japão. Na cerimônia de despedida, um grupo de crianças dançou no porto e uma delas leu uma carta desejando que a tripulação “cace grandes baleias”. 

O navio pesqueiro que custou 48 milhões de dólares (R$ 245 milhões) pretende caçar cerca de 200 baleias até ao final do ano. 

“Este é um novo navio para uma nova era, um símbolo do novo período de retomada da caça comercial às baleias”, disse Hideki Tokoro, presidente da empresa baleeira que construiu o “Kangei Maru”. 

A caça à baleia é praticada no Japão há séculos e esta carne foi uma importante fonte de proteína para a população após a Segunda Guerra Mundial. 

Mas nas últimas décadas a procura caiu drasticamente, algo que o presidente da Câmara de Shimonoseki, Shintaro Maeda, está determinado a mudar. 

“Comer baleia faz parte da identidade do povo japonês”, disse ele. 

Os ambientalistas argumentam que as baleias vivem muito e são produzidas lentamente, por isso não são uma fonte sustentável de alimento. 

Além disso, as populações de baleias ainda se recuperam da época em que a caça era uma prática generalizada. 

“A caça comercial à baleia é injustificável no século XXI. É uma prática desumana que existe apenas para o benefício de alguns”, afirmou neste mês a organização World Cetacean Alliance.

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