Organizações não-governamentais e opositores iranianos lamentaram que a morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero tenha o impedido de ser responsabilizado pelos crimes que, segundo eles, cometeu durante mais de três décadas.

"Ebrahim Raisi era um símbolo da impunidade judicial dos criminosos e da ausência de responsabilização na República Islâmica", disse à AFP Mahmood-Amiry Moghaddam, diretor da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega. 

"Ele deveria ter sido processado por crimes contra a humanidade e respondido, no âmbito de um julgamento justo, pelas inúmeras atrocidades que cometeu ao longo destas quatro décadas", acrescentou Moghaddam.

Nascido em 1960, o falecido presidente iraniano rapidamente ascendeu ao poder após a Revolução Islâmica de 1979, sendo nomeado como procurador-geral de Teerã dez anos mais tarde.

Em 2004 foi promovido a vice-chefe do Poder Judiciário, cargo que ocupou por 10 anos, período que incluiu as grandes manifestações de 2009 contra a reeleição do Presidente Mahmoud Ahmadinejad, que a oposição alegou ser fraudulenta.

- Crimes contra a humanidade -

Outras organizações, como a Anistia Internacional, acusam Raisi de ter integrado um "comitê da morte" composto por quatro pessoas, que aprovou a execução de milhares de presos políticos em 1988, em sua maioria supostos membros do movimento opositor Mujahidin do Povo Iraniano (MEK, na sigla em árabe), proibido no Irã. 

Considerado antes da sua morte como um possível sucessor do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, o então presidente negou categoricamente qualquer envolvimento pessoal, mas comemorou a decisão de prosseguir com estas execuções.

Em setembro de 2020, um grupo de sete relatores especiais da ONU escreveu ao governo iraniano para pedir que prestasse contas sobre estas execuções, ao considerar que poderiam ser classificadas como "crimes contra a humanidade".

Em 2019, Raisi foi nomeado chefe do Judiciário e em 2021 foi eleito presidente. 

Um ano depois, seu governo desencadeou uma onda de repressão para impedir os protestos contra a morte da jovem Mahsa Amini, sob custódia policial, por supostamente não cumprir os rígidos códigos de vestimenta impostos às mulheres.

Segundo as organizações, centenas de pessoas morreram vítimas desta truculência. 

No início deste ano, uma investigação independente da ONU indicou que o governo iraniano havia cometido crimes contra a humanidade pela "repressão violenta" de tais manifestações e pela discriminação contra as mulheres.

- Pilar do sistema -

"A simpatia por ele é um insulto às suas vítimas e à nação iraniana", declarou Reza Pahlavi, filho do último xá do Irã, deposto pela Revolução de 1979, e uma proeminente figura da oposição. 

"O único arrependimento é que ele não tenha vivido o suficiente para ver a queda da República Islâmica e não tenha sido julgado pelos seus crimes", acrescentou.

"Raisi foi um pilar de um sistema que prende, tortura e mata pessoas que ousam criticar as políticas de Estado", disse Hadi Ghaemi, diretor-executivo do Centro para os Direitos Humanos no Irã, uma organização com sede em Nova York. 

"Sua morte permitiu-lhe escapar à obrigação de responder aos numerosos crimes e atrocidades cometidos pelo Estado sob o seu poder", acrescentou. 

O militante também fez um alerta. "O que é decisivo agora é que a comunidade internacional não permita que a República Islâmica aproveite este momento para reprimir e brutalizar ainda mais o povo iraniano", completou.

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