Policiais, professores, médicos, enfermeiros e funcionários públicos em geral completam, nesta quarta-feira (22), seis dias de protestos por reajustes salariais na província argentina de Misiones, despertando temores de que o movimento se espalhe no momento em que os efeitos do ajuste econômico do presidente ultraliberal Javier Milei se intensificam. 

Com o passar dos dias, outros setores afetados pela combinação de salários desvalorizados e aumento do custo de vida se juntaram ao protesto iniciado pela polícia. 

"Não temos medo porque já não temos nada", alertam os manifestantes em torno de pneus em chamas nesta província de 1,2 milhão de habitantes, no nordeste da Argentina.

Milei mantém um controle rígido sobre as transferências de dinheiro para as províncias, que caíram em abril quase 90% em relação ao ano anterior. 

"Queríamos acertar as contas e pesamos um pouco a mão com o ajuste", disse ele na terça-feira. A Argentina registrou este ano o primeiro superávit fiscal trimestral desde 2008, mas as finanças das províncias estão contra as cordas. 

O oposicionista Sergio Berni, senador pela província de Buenos Aires, alertou ao canal C5N que "o que acontece em Misiones terá um efeito de contágio em todo o país". O porta-voz presidencial, Manuel Adorni, por sua vez, disse nesta quarta-feira que não tem "medo algum" de que o movimento se espalhe.

O governo da província contígua de Corrientes reajustou os salários em 10% na terça-feira, um dia depois de sua polícia ter ameaçado adotar uma medida igual à dos "colegas da vizinha Misiones". 

Ao aumento dos aluguéis e da alimentação (inflação de 8,8% em abril e de 290% interanual) somam-se os das tarifas dos transportes e da energia, que sufocam a economia familiar, em um contexto de demissões e retração da atividade econômica. 

Em Posadas, capital de Misiones, os professores bloquearam uma estrada nacional que dá acesso à ponte Garupá, na entrada da cidade. 

"Os professores não têm dinheiro para ir trabalhar, pagar o combustível, o ônibus, estão comprando comida com cartão de crédito, todos endividados. Não há escapatória se não houver reajuste salarial, a situação é desesperadora", disse Camila, uma professora do ensino médio, à AFPTV. 

Depois de deixarem a via, os docentes se juntaram a um acampamento de rua improvisado que cresce a cada dia, onde centenas de manifestantes se espalharam em um raio de três quarteirões ao redor do Comando Radioelétrico I da polícia, epicentro dos protestos. 

Quase todos os setores exigem um aumento salarial de 100%, longe da oferta de 15% a 50% que receberam. Ambas as partes permanecem intransigentes. 

Enfermeiros e médicos entraram no ministério da Saúde para forçar um diálogo, mas não tiveram sucesso. 

Os protestos são pacíficos e a Infantaria os controla a distância. 

"O protesto está razoavelmente controlado", disse o ministro do Interior, Guillermo Francos, ao canal TN+. "Estamos conscientes das dificuldades das províncias".

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