Serge e Beate Klarsfeld receberão na segunda-feira uma das principais honrarias da França por seu trabalho incansável de caça aos nazistas ao redor do mundo, uma vida lendária ofuscada nos últimos anos por sua legitimação da extrema direita francesa.
"É a maior recompensa (...) Juntos percorremos um caminho muito longo nos últimos 64 anos e este caminho tem sido útil para (...) a reconciliação franco-alemã", afirmou Serge Klarsfeld em uma entrevista à AFP em Paris.
O presidente francês, Emmanuel Macron, vai condecorar Serge Klarsfeld, 88 anos, na segunda-feira em Berlim com a Grã-Cruz da Legião de Honra. A sua inseparável esposa Beate, 85 anos, será condecorada como Grande-Oficial da Legião de Honra.
"Obviamente é importante que aconteça na Alemanha", disse Beate Klarsfeld, ao explicar que em seu país natal goza de uma imagem de "ovelha negra" desde que deu um tapa em público, em 1968, no então chanceler Kurt Georg Kiesinger por seu passado nazista.
O casal, que se conheceu em 1960, ficou famoso por rastrear líderes nazistas escondidos em todo o mundo e obrigá-los a enfrentar a justiça, como Klaus Barbie, "o açougueiro de Lyon", que a Bolívia expulsou para a França em 1983.
Os dois também documentaram o destino dos judeus deportados pela França e assassinados durante a Segunda Guerra Mundial. O pai de Serge foi um deles: capturado em Nice, no sudeste da França, morreu no campo de concentração de Auschwitz.
O casal recebeu a AFP em seu escritório em Paris. Na parede há um mapa do campo de Auschwitz II e a primeira página do jornal Morgenpost sobre o tapa de Beate no chanceler alemão.
"Não foi um caminho fácil", afirma Serge sobre a longa batalha de Beate para que a Alemanha encarasse o passado nazista durante o pós-guerra e sobre a sua incansável campanha pelo reconhecimento do Holocausto.
- 'Aliviados' -
Na França, a voz dos Klarsfeld, que moram em Paris, tem grande influência. Macron agradeceu quando o casal publicou anúncios de página inteira em 2017 para defender sua eleição no segundo turno contra a candidata de extrema direita Marine Le Pen.
"As paisagens que a extrema direita deixou na Europa", afirmava o anúncio, acompanhado da imagem de uma cerca de arame farpado. "FN em 2017? Nunca", acrescentava, em referência à Frente Nacional, o partido histórico de extrema direita.
Desde que Marine Le Pen assumiu o comando do partido, fundado por seu pai Jean-Marie ao lado de um ex-membro das SS, entre outros, em 2011, ela tenta apagar a imagem extremista, sem abandonar as críticas à imigração, e decidiu mudar o nome da legenda para 'Rassemblement National' (RN, Reunião Nacional) em 2018.
"Acreditamos que o RN evoluiu de maneira positiva, em particular no que diz respeito à atitude com os judeus", afirma agora Serge, que foi acusado em 2022 pela associação antirracista SOS Racisme de "contribuir para a banalização da extrema direita".
"Nos sentimos aliviados, não diria felizes (...) de ouvir a líder do RN condenar Pétain, Laval, a operação de captura [de judeus] de Vel d'Hiv em 1942", acrescenta, mencionando os líderes franceses que colaboraram com os nazistas.
Para o casal, a chave para a mudança também está no "apoio a Israel". "Reconhecemos e consideramos que este partido entrou, pouco a pouco, no círculo dos partidos republicanos", afirma Serge.
Uma das "vitórias" da luta contra o antissemitismo foi "acabar com o negacionismo histórico", destaca o professor e historiador, preocupado com o aumento dos ataques aos judeus desde 7 de outubro, data do início da guerra na Faixa de Gaza.
Ele afirma que o "perigo" agora está nos muçulmanos vinculados "ao islamismo fundamentalista" na "extrema esquerda (...) que sempre teve preconceitos antissemitas, contra o capitalismo e razões eleitoreiras para apoiar os inimigos de Israel".
Apesar da mudança de visão sobre o RN, os Klarsfeld ainda consideram o partido de extrema direita alemão AfD "perigoso". "É antieuropeu e antissemita", afirma Beate, que celebra o fim da cooperação do partido de Le Pen com a legenda alemã.
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