As tropas israelenses continuaram bombardeando Rafah nesta quarta-feira (29) e em confronto com milicianos do Hamas nesta cidade no sul da Faixa de Gaza, de onde quase um milhão de palestinos fugiram nas últimas semanas.

Setenta e cinco palestinos morreram nas últimas 24 horas, após operações militares israelenses na Faixa de Gaza, elevando para pelo menos 36.171 o número de mortos, a maioria civis, desde o início da guerra em 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

O Conselho de Segurança da ONU deverá se reunir pelo segundo dia consecutivo em Nova York para conversas de caráter emergencial. As reuniões foram convocadas depois que um bombardeio israelense matou 45 pessoas em um acampamento de deslocados em Rafah, no domingo (26), segundo relatos das autoridades de Gaza.

A Corte Internacional de Justiça (TPI), a mais alta instância judicial da ONU, ordenou na sexta-feira que Israel suspendesse suas operações em Rafah, uma cidade na fronteira com o Egito, por onde entra a maior parte da ajuda humanitária para os 2,4 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza.

Contudo, os bombardeios não cessaram e os confrontos se intensificaram.

Um jornalista da AFP relatou confrontos nas ruas e indicou que um helicóptero israelense disparou contra alvos no centro da cidade.

O grupo islamista palestino afirmou, por sua vez, ter disparado foguetes contra soldados perto do acampamento de Yebna, também em Rafah.

"As pessoas estão dentro de suas casas neste momento porque os drones israelenses estão atirando em qualquer um que se mova", disse Abdel Khatib, um morador da cidade. 

O Exército informou que três de seus soldados foram mortos em Rafah na terça-feira (28), elevando para 292 o número de mortos desde que Israel lançou sua ofensiva terrestre em 27 de outubro.

Os Estados Unidos, principal aliado de Israel que fez um apelo para que as autoridades israelenses não realizassem uma grande ofensiva em Rafah, garantiram que até agora a operação na cidade é "limitada" e que, portanto, continuariam a apoiá-lo.

- "Perdi dois filhos" -

Cerca de um milhão de pessoas fugiram de Rafah, onde vivem mais de 1,4 milhão de palestinos, a maioria deslocados, desde que os tanques israelenses entraram no leste da cidade, em 7 de maio.

Israel lançou uma investigação sobre o bombardeio de domingo, mas disse que a munição utilizada não poderia ter causado o incêndio "por si só", que a Defesa Civil palestina afirma ter deixado muitos corpos carbonizados.

Mohamad al Mughai, uma autoridade da Defesa Civil, contou à AFP na terça-feira que 21 pessoas morreram em um bombardeio similar "contra tendas de campanha de pessoas deslocadas" em Al Mawasi, a oeste de Rafah. 

O Exército israelense "não bombardeou a zona humanitária de Al Mawasi", afirmou um comunicado militar. 

O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando combatentes islamistas atacaram o sul de Israel e mataram 1.189 pessoas, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Os milicianos também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 permanecem detidas em Gaza, das quais 37 teriam morrido.

Em resposta, as autoridades israelenses lançaram uma ofensiva aérea e terrestre que, além de causar um grande número de mortos, destruíram muitos bairros e deslocaram a maior parte dos quase 2,4 milhões de habitantes do território.  

Também no sul, três corpos foram encontrados nos escombros de uma casa bombardeada em Khan Yunis, segundo a Defesa Civil.

"Perdi dois dos meus filhos, Haydar, de 8 anos, e Mecca, de 5, minha única filha", que morreram nos ataques a Khan Yunis, disse aos prantos Rami Abu Jazar, após se despedir de seus filhos.

O porta-voz do Ministério da Saúde do Hamas, Ashraf al Qudra, acusou Israel de "atacar deliberadamente os serviços de saúde de Rafah e o norte de Gaza" e considerou "urgente estabelecer hospitais de campanha e enviar equipes médicas" naquela área.

- Brasil retira seu embaixador em Israel -

Após quase oito meses de guerra, Israel enfrenta uma oposição internacional cada vez maior, bem como denúncias em dois tribunais internacionais com sede nos Países Baixos.

Nesta quarta-feira, o Brasil decidiu retirar seu embaixador em Israel, Frederico Meyer, e não nomeará outra pessoa para o cargo de imediato, disse à AFP uma fonte diplomática, em um novo capítulo da crise entre os dois países devido à guerra em Gaza.

Brasília chamou de volta seu embaixador em Tel Aviv para consultas e convocou o representante israelense em Brasília.

Em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou o governo israelense de "genocídio" e comparou sua campanha militar na Faixa de Gaza a "quando Hitler decidiu matar os judeus".

Em resposta, Israel declarou Lula "persona non grata" e convocou Meyer para uma reunião no centro memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. 

A fonte afirmou que "a humilhação a que ele [Meyer] foi submetido naquele episódio três meses atrás" foi o que motivou a retirada definitiva do embaixador.

"Não havia condições para ele retornar, essa foi a avaliação", acrescentou a fonte.

Já o presidente chinês, Xi Jinping, expressou a seu contraparte egípcio, Abdel Fatah al Sissi, sua "profunda tristeza" devido à situação humanitária "extremamente grave" em Gaza, segundo a imprensa estatal.

A Argélia apresentou, por sua vez, um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU que "exige um cessar-fogo imediato respeitado por todas as partes" e a libertação de todos os reféns. 

O embaixador argelino, Amar Bendjama, não especificou quando espera submeter a medida à votação, mas a China expressou que aguarda que seja ainda esta semana.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que "o espírito das Nações Unidas morreu em Gaza" e pediu ao "mundo islâmico que reaja" após os ataques israelenses contra os acampamentos de deslocados palestinos em Rafah.

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