“Lamentamos informar que não poderemos contar com você entre os voluntários Paris-2024”. A mensagem não foi fácil de digerir para os russos e bielorrussos que tinham sido escolhidos para ajudar nos Jogos Olímpicos e que agora foram rejeitados por razões de segurança.

Diana é uma russa que vive na França desde 2019 e recebeu o anúncio da sua seleção como voluntária para os Jogos de Paris no final de 2023 “como o mais lindo presente de Natal”. 

Ela já foi voluntária nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi-2014, na Rússia, e queria compartilhar sua experiência para ajudar no “grande evento” em Paris.

Em março, Diana participou de uma convenção de voluntários e depois passou por um treinamento. Seu uniforme deveria chegar em maio, mas um e-mail recente informou que ela não poderia fazer parte dos Jogos.

“Foi emitida uma avaliação desfavorável contra você”, disse o programa de voluntariado Paris-2024, citando o “código de segurança interna” da França.

“Infelizmente, você não poderá participar da missão e não receberá mais comunicações dos nossos serviços”, acrescentou.

“Percebi que representava um grande perigo para este país”, disse a mulher de 31 anos, que trabalha para uma grande empresa francesa. “Mas não sei o motivo”, diz ela, solicitando que o seu sobrenome não seja divulgado publicamente.

Vários voluntários russos e bielorrussos afirmam nas redes sociais que receberam e-mails semelhantes. Suas reações variam da raiva à perplexidade.

- Lágrimas e incompreensão -

A súbita “suspensão” faz parte dos receios de segurança que pairam sobre os Jogos Olímpicos de Paris. A França é aliada de Kiev, que está no seu terceiro ano de guerra com a Rússia, após a invasão à Ucrânia em fevereiro de 2022.

Em abril, o presidente francês, Emmanuel Macron, indicou que “não tinha dúvidas” de que Moscou atacaria a organização dos Jogos Olímpicos. A França denuncia há meses uma campanha de desinformação russa, acusações consideradas “infundadas” pelo Kremlin.

Os atletas da Rússia e da sua aliada Belarus só podem participar no Paris-2024 a título individual, sob uma bandeira neutra e obedecendo a uma série de condições, incluindo não terem apoiado ativamente a guerra na Ucrânia.

“Controlamos absolutamente todos os que se aproximam dos Jogos Olímpicos”, disse o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, em março, acrescentando que 800 pessoas “que não tinham boas intenções” foram excluídas.

Apenas 45 mil de um total de 300 mil candidatos foram escolhidos para serem voluntários nos Jogos Olímpicos (26 de julho a 11 de agosto) e nos Jogos Paralímpicos (28 de agosto a 8 de setembro) em Paris.

Questionado pela AFP especificamente sobre o caso dos voluntários russos e bielorrussos, o Ministério do Interior francês não quis comentar.

“Só podemos expressar o nosso pesar”, reagiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que disse que os organizadores estavam privando os convidados de língua russa de participarem como voluntários.

Dzmitry Shalipain, um bielorrusso de 19 anos que estuda em Sorbonne, diz que chorou quando descobriu que havia sido rejeitado.

“Eles nos tratam como terroristas na frente de todos”, diz ele.

“Esta situação é um presente para Putin e a sua propaganda”, afirma uma russa de 45 anos cuja candidatura também foi suspensa, apesar de ter obtido asilo na França após a invasão à Ucrânia e de ter devolvido o passaporte russo.

- "Um dilema" -

Esta mulher, uma professora de idiomas que prefere permanecer em anonimato, acredita que a rejeição dos voluntários russos e bielorrussos reforçará o discurso de Vladimir Putin contra o Ocidente.

Ekaterina Pimenova, uma jovem de 18 anos residente em São Petersburgo, inscreveu-se como voluntária nos Jogos Paralímpicos. Ele diz que gastou cerca de 2.000 euros [R$ 11.000] em passagens aéreas de ida e volta e com hospedagem na França. E então recebeu o e-mail de rejeição.

"Não sei por quê. Não tenho antecedentes", questiona Pimenova, que estuda francês há anos e se diz uma grande admiradora da cultura francesa. 

Segundo Mark Galeotti, especialista nos serviços de segurança russos, a França quer assumir um compromisso com a segurança.

“No entanto, há sempre um dilema, que é saber se você está errando por excesso de cautela e com isso excluindo pessoas completamente inocentes, ou se você é generoso e corre o risco de deixar entrar agentes russos”, analisa.

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