Chanceleres de cerca de 20 países das Américas vão discutir nesta terça-feira (7) na Guatemala estratégias para enfrentar em conjunto a crise migratória, em uma reunião cujo destaque será o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken.

O objetivo do encontro será "coordenar estratégias para tratar de forma integrada e colaborativa esse fenômeno que é a imigração", disse o presidente guatemalteco, Bernardo Arévalo.

"Blinken vai ressaltar nossos avanços nos últimos dois anos e prever os próximos passos conjuntos para fortalecer a gestão humana da migração", antecipou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. O secretário de Estado também vai se reunir com Arévalo e outras autoridades latinas.

Cerca de 2,8 milhões de imigrantes entram por ano nos Estados Unidos de forma irregular, o que gera grande pressão sobre o presidente democrata, Joe Biden, acusado pelos republicanos, liderados por Donald Trump, de não agir para acabar com o problema.

"O presidente Biden sabe que aqui tem que reforçar as fechaduras e colocar sete chaves na porta, porque sua reeleição depende disso", disse à AFP o analista e acadêmico guatemalteco Renzo Rosal.

A América Central também enfrenta uma avalanche de migrantes, a maioria venezuelanos, que gera problemas de segurança e obriga os governos a destinar recursos para ajudá-los, e na América do Sul também existem países, como Colômbia, Peru e Chile, onde o êxodo de venezuelanos desafia as autoridades.

Vão participar do encontro chanceleres e outros funcionários do alto escalão dos países que assinaram em Los Angeles a Declaração sobre Migração e Proteção, no contexto da Reunião de Cúpula das Américas de 2022.

O tema migratório também é parte central da nova relação de entendimento entre os Estados Unidos e a Guatemala desde que Arévalo assumiu o poder, em janeiro.

- Medidas concretas -

Entre os imigrantes que chegam aos Estados Unidos também há milhares de centro-americanos que deixam seus países para fugir da pobreza, do desemprego, dos salários baixos e da violência.

"Nenhum país pode resolver isso sozinho", disse à AFP Marcela Ríos, diretora para a América Latina da Idea Internacional, organização intergovernamental que promove a democracia, integrada por 35 Estados. "Mas a conferência tem que apresentar medidas concretas, compromissos e orçamentos", e não meras declarações de boas intenções, ressaltou Marcela, ex-ministra chilena da Justiça e dos Direitos Humanos.

- Nem muros nem cercas -

"As medidas punitivas não vão deter o fluxo migratório", afirmou o analista independente guatemalteco Luis Linares. "Aqueles que acham que colocar muros, cercas ou grades resolve o problema não entendem que se trata de um problema muito mais complexo, que precisa ser abordado de forma integral por todos os países, mas também com os órgãos internacionais", apontou Marcela Ríos.

- E se Trump vencer? -

Luís Linares vê com ceticismo a conferência hemisférica, pois acredita que os avanços serão anulados se Trump voltar à Casa Branca. "Qualquer acordo fechado será modificado ou afastado por Trump, e vai haver da parte dos Estados Unidos uma política mais dura de contenção-repressão", indicou o analista.

"Enquanto mais oportunidades de emprego não forem geradas, os jovens que não encontrarem trabalho terão como única meta e possibilidade a emigração", acrescentou Linares.

Na mesma linha, Marcela Ríos disse que "os países do norte têm que contribuir para financiar programas com o objetivo de superar as crises sociais e econômicas em países latinos, que, em última instância, são o que gera esses movimentos populacionais".

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