O Exército de Israel mobilizou tanques nesta terça-feira (7) em Rafah e tomou o controle do lado palestino do posto de fronteira com o Egito, no sul da Faixa de Gaza, aumentando a "pressão" sobre o Hamas na negociação de uma proposta de trégua que foi aceita pelo movimento islamista palestino.
Os militares israelenses divulgaram imagens que mostram tanques com a bandeira do país, posicionados na área de fronteira, do lado palestino, e anunciaram uma operação "antiterrorista" em "zonas específicas" do leste de Rafah.
Os bombardeios noturnos na cidade, onde 1,2 milhão de pessoas estavam aglomeradas segundo a ONU, deixaram pelo menos 27 mortos, segundo os hospitais da localidade.
O Exército ordenou na segunda-feira a retirada de dezenas de milhares de famílias do leste de Rafah, visando uma ofensiva terrestre de grande envergadura que, para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, é necessária para eliminar os últimos batalhões do Hamas.
A ONU informou nesta terça-feira o Exército israelense proibiu o acesso à passagem de fronteira de Rafah, principal porta de entrada de ajuda humanitária ao território palestino, cercado e à beira de um cenário de fome.
Uma unidade de veículos blindados "manobrou na área. Neste momento, forças especiais inspecionam a passagem de fronteira de Rafah, temos o controle operacional da área", afirmou um comunicado militar.
O serviço de inteligência destacou que "a parte de Gaza do posto de fronteira (...) era utilizada pelo Hamas para fins terroristas".
Em outro posto de fronteira, no centro da Faixa, o braço armado do Hamas anunciou que lançou "foguetes contra uma concentração de tropas" israelenses nas imediações da passagem, que também é uma porta de entrada de ajuda humanitária. O local está fechado desde domingo, quando quatro soldados israelenses morreram em outro ataque.
Os ministros da União Europeia (UE) expressaram preocupação com a presença de tanques israelenses em Rafah.
- Reuniões no Cairo -
De modo paralelo às operações militares, novas negociações estão previstas no Cairo, depois que o Hamas aceitou uma proposta de trégua apresentada pelos países mediadores, Egito e Catar, para tentar acabar com a guerra, iniciada há sete meses.
Apesar de ter afirmado que a proposta está "muito longe das exigências", o governo de Israel anunciou o envio de uma delegação ao Egito "para esgotar as possibilidades de alcançar um acordo com condições aceitáveis".
O gabinete de Netanyahu anunciou que decidiu "por unanimidade prosseguir com a operação em Rafah para exercer pressão militar sobre o Hamas com o objetivo de avançar rumo à libertação de reféns e à concretização de outros objetivos de guerra".
Um dirigente do movimento islamista palestino, Khalil al Hayya, disse à rede Al Jazeera que a atual proposta de trégua contempla três fases, cada uma com a duração de 42 dias.
A iniciativa incluiria uma retirada israelense completa da Faixa de Gaza, o retorno dos deslocados e uma troca de reféns que permanecem em cativeiro no território por presos palestinos detidos em Israel, com o objetivo de um "cessar-fogo permanente".
Até o momento, Israel expressa oposição a uma retirada completa de Gaza e a um cessar-fogo permanente sem iniciar primeiro uma operação em Rafah para "derrotar" o Hamas e garantir que um ataque como o de 7 de outubro não volte a acontecer.
Naquele dia, comandos islamistas invadiram o sul de Israel e assassinaram 1.170 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais. Entre os mortos estavam mais de 300 soldados.
Também sequestraram 250 pessoas, das quais 128 continuam na Faixa de Gaza, segundo o Exército israelense, que acredita que 35 morreram em cativeiro.
A ofensiva de resposta israelense em Gaza matou 34.789 pessoas, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado desde 2007 pelo Hamas.
- Aproveitar a oportunidade -
Após o anúncio do Hamas, uma associação de parentes dos reféns israelenses protestou em Tel Aviv e exigiu que as partes envolvidas "transformem esta oportunidade em um acordo" para o retorno de todas as pessoas que estão em cativeiro.
Em Rafah, as cenas de alegria pela esperança de uma trégua foram mescladas com o pânico pela evacuação e a ameaça de uma incursão das tropas israelenses.
Em panfletos divulgados na região, o Exército israelense pede aos moradores que sigam para a zona humanitária (habilitada) em Al Mawasi", uma cidade na costa, a 10 quilômetros de Rafah.
"Os moradores deixam a cidade aterrorizados, em pânico", declarou à AFP Osama al Kahlut, um diretor local do Crescente Vermelho palestino, que calcula o número de afetados em 250.000.
"Minha família e eu, 13 pessoas, não sabemos para onde ir", declarou Abdul Rahman Abu Jazar, um palestino de 36 anos.
A zona de Al Mawasi "não tem espaço suficiente para que também instalemos nossas barracas", disse.
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