O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, alertou, nesta terça-feira (7), que Washington sancionará quem facilitar a "migração irregular", tema central na campanha eleitoral americana, em uma conferência continental na Guatemala que terminou sem acordos sobre medidas concretas para superar a crise migratória.

Cerca de 2,8 milhões de migrantes entram irregularmente nos Estados Unidos todos os anos, aumentando a pressão sobre o presidente e candidato à reeleição em novembro, o democrata Joe Biden, enquanto os republicanos liderados por seu rival Donald Trump o acusam de não fazer nada para acabar com o problema.

A "nova política de restrição de vistos destina-se a pessoas que conscientemente fornecem transporte a quem pretende migrar irregularmente aos Estados Unidos, incluindo voos fretados que chegam à Nicarágua", disse Blinken na conferência presidida pelo mandatário guatemalteco, Bernardo Arévalo.

O secretário de Estado americano destacou o anúncio de Washington na segunda-feira, sobre "restrições de vistos a executivos de empresas colombianas de migração marítima que estão facilitando a migração irregular".

"Estamos redobrando os nossos esforços para proteger os trabalhadores migrantes da exploração", acrescentou.

- 'Escolha, e não obrigação' -

Participaram do encontro ministros das Relações Exteriores e outros altos funcionários de cerca de 20 países signatários da Declaração sobre Migração e Proteção firmada em Los Angeles, nos Estados Unidos, na Cúpula das Américas de 2022.

Ao término do encontro, o chanceler da Guatemala, Carlos Ramiro Martínez, fez um balanço do tratado, sem anunciar nenhuma medida concreta, e esclareceu que os ministros não discutiram o tema dos voos charter da Nicarágua mencionado por Blinken em seu discurso.

"Foram discutidas formas de atacar as causas da migração, os desafios em comum que envolvem a atual dinâmica migratória", assinalou Martínez aos jornalistas.

Por sua vez, a chanceler mexicana Alicia Bárcena afirmou em seu discurso que "a migração tem que ser uma escolha, e não uma obrigação. Por isso, nossa primeira prioridade é atender as causas estruturais".

- Ponte aérea na Nicarágua -

A América Central também enfrenta complicações pelas centenas de milhares de migrantes, a maioria venezuelanos, que viajam através do istmo para os Estados Unidos, atravessando a pé a inóspita floresta do Darién, na fronteira entre Colômbia e Panamá.

Contudo, os migrantes que rumam para os Estados Unidos não chegam apenas por terra à América Central, mas também por mar e ar, pois a Nicarágua agora serve de ponte aérea com voos charter e comerciais usados por migrantes asiáticos e africanos que buscam evitar o Darién, segundo funcionários americanos e analistas centro-americanos.

De fato, o governo de Daniel Ortega tem se tornado cada vez mais flexível para emitir vistos a cidadãos de alguns países desses continentes, segundo as mesmas fontes.

Também há relatos de embarcações com migrantes que zarpam da ilha colombiana de San Andrés, situada no Caribe, rumo à América Central. 

A Nicarágua não compareceu à conferência e não assinou a Declaração de 2022, pois nem sequer foi convidada à Cúpula de Los Angeles.

- Perigos no Darién -

Em 2023, mais de meio milhão de migrantes - principalmente venezuelanos, mas também asiáticos e africanos - atravessou a floresta do Darién, onde operam organizações criminosas que atacam, estupram e matam os viajantes indefesos.

Os migrantes que cruzam o Darién a pé estão expostos a "tráfico de pessoas, roubo de pertences e dinheiro, extorsão, violência sexual", entre outros perigos, segundo a Defensoria do Povo da Colômbia.

Entre os migrantes que chegam aos Estados Unidos também há milhares de centro-americanos que deixam seus países fugindo da pobreza, da falta de emprego, dos baixos salários e da violência criminal.

"Temos a convicção de que a migração é um desafio multilateral e é partindo disso que devemos encontrar soluções conjuntas", disse à AFP a vice-chanceler chilena, Gloria de la Fuente, que liderou a delegação de seu país na conferência.

Também compareceram ao encontro funcionários da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), entre outros.

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