O governo dos Estados Unidos anunciou nesta quarta-feira (15) uma bateria de sanções contra “a repressão” do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, a quem acusa de manipular o setor do ouro e de ganhar dinheiro com a migração. 

A Nicarágua está sob sanções dos EUA pela repressão aos protestos de 2018 contra Ortega, no poder desde 2007 e sucessivamente reeleito em eleições questionadas pela comunidade internacional. 

Washington considera a sua reeleição em 2021 fraudulenta e o acusa de uma onda de detenções de opositores, muitos dos quais ainda estão na prisão ou foram forçados ao exílio e se viram privados da sua nacionalidade. 

O Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) apontou o Centro de Formação do Ministério do Interior Russo em Manágua (RTC) como "um ator-chave na repressão" da sociedade civil e "na detenção e prisão injustas de pessoas por expressarem dissidência ou exercerem pacificamente seus direitos humanos e liberdades fundamentais", afirma o Departamento do Tesouro. “

A Nicarágua é um dos principais parceiros da Rússia na América Central, como demonstrado por uma série de visitas de alto nível a Manágua”, afirma Washington.

- "Ajuda" ao "ciclo opressivo" -

A Rússia criou um centro de formação em Manágua para ministrar cursos especializados à Polícia Nacional da Nicarágua (PNN) e às forças policiais de outros países da América Latina, insiste. 

Este centro “ajuda a manter o ciclo de opressão violenta na Nicarágua” porque a PNN “é um aparelho estatal repressivo que realiza execuções extrajudiciais, usa munições reais contra protestos pacíficos e até participa de esquadrões da morte”, acusa o governo dos EUA. 

Também foram sancionadas a Compañía Minera Internacional (COMINTSA) e a Capital Mining Investment Nicaragua (Capital Mining), duas empresas de ouro afiliadas ao governo "que geram renda" para o regime de Ortega e sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, acrescentou em comunicado. 

Como resultado das sanções, todos os bens e participações em ativos destas companhias que estejam nos Estados Unidos ou que estejam sob poder ou controle dos americanos são bloqueados. 

Ao mesmo tempo, o Departamento de Estado emitiu mais de 250 restrições de visto a funcionários nicaraguenses, somando-se às mais de 1.000 anunciadas nos últimos anos.

- "Muito cínico" -

Por último, o governo americano publicou um comunicado para alertar a indústria dos transportes sobre como os traficantes de seres humanos facilitam a migração ilegal para os Estados Unidos e lembrá-la das “medidas-chave que deve tomar para evitar” ser cúmplice. 

O governo é "muito cínico" em relação à venda de vistos "que exigem que as pessoas saiam dentro de 96 horas", explicou um funcionário dos EUA que pediu anonimato. 

“É um regime agressivo que beneficia (...) e facilita o tráfico ilícito de migrantes”, acrescentou, especificando que a medida não se destina ao turismo. 

A relação entre os Estados Unidos e a Nicarágua tem sido especialmente tensa desde as eleições nicaragüenses de 2021, que aconteceram com os rivais de Ortega presos ou no exílio. 

Desde então, Manágua realizou uma ofensiva contra milhares de ONGs e o mundo acadêmico, além de intensificar a perseguição à Igreja Católica.

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