O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, que se encontra em estado crítico após ter sido atingido por vários disparos nesta quarta-feira (15), é um antigo militante comunista que foi acusado de inclinar a política de seu país a favor do Kremlin.

Fico, de 59 anos, venceu as eleições gerais de setembro na Eslováquia à frente do partido populista Smer-SD e é um político veterano que ocupou o cargo de chefe de governo por quatro mandatos, marcados por escândalos de corrupção e reformas criticadas.

Desde que voltou ao poder em outubro, tem gerado polêmica ao afirmar que a Ucrânia deve ceder territórios à Rússia para encerrar a guerra, algo descartado por Kiev.

A Eslováquia, membro da União Europeia e da Otan, foi um dos países europeus que mais ajudou a Ucrânia desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, em proporção ao seu PIB.

Porém, Fico decidiu interromper o fornecimento de ajuda militar, cumprindo sua promessa de campanha que o levou ao poder na liderança de uma coalizão com partidos de extrema direita.

No passado, ele comemorou a adoção do euro na Eslováquia como uma "decisão histórica", mas durante a última campanha, criticou a UE, a Otan e a Ucrânia na tentativa de atrair os eleitores dos extremos e rotulou seus rivais de "belicistas".

Além disso, causou controvérsia ao defender que não permitiria a prisão em seu país do presidente russo, Vladimir Putin, que é alvo de uma ordem internacional de captura.

Fico, que é advogado, iniciou sua carreira política no Partido Comunista, antes da Revolução de Veludo na extinta Tchecoslováquia.

Após a dissolução e a chegada do capitalismo e da democracia, Fico estreou como representante da Eslováquia no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, entre 1994 e 2000.

Em 1998, o Partido da Esquerda Democrática (SDL), herdeiro do Partido Comunista, o descartou para um cargo ministerial e, no ano seguinte, ele renunciou à sua militância e fundou o partido social-democrata Smer-SD.

- Alianças com a extrema direita -

Sua aposta deu certo e, em 2006, o Smer-SD conquistou uma vitória esmagadora que levou Fico ao cargo de primeiro-ministro, dois anos após o país entrar na União Europeia.

Fico se aliou ao partido de extrema direita SNS, com quem compartilha uma retórica contra os refugiados e inclinações populistas.

O então primeiro-ministro aproveitou a crise financeira global de 2008 para reforçar sua popularidade ao se recusar a impor medidas de austeridade.

A entrada da Eslováquia na zona do euro em 2009 marcou o fim de seu primeiro mandato de quatro anos.

Nas eleições de 2010, ficou em segundo lugar depois de não conseguir formar uma coalizão governamental, apesar de seu partido ter sido o mais votado.

Mais tarde, obteve uma contundente vitória nas eleições antecipadas de 2012, após a queda de uma coalizão de centro-direita por acusações de corrupção.

- "Rosas vermelhas" -

Em 2015, quando a Europa foi sacudida por uma onda de refugiados, Fico defendeu uma postura dura em relação à imigração e se recusou a "dar espaço" a uma comunidade muçulmana na Eslováquia. Também criticou o programa de cotas da UE para redistribuir os deslocados.

O Smer-SD venceu as eleições de 2016, mas seu mandato como primeiro-ministro terminou dois anos depois após os assassinatos do jornalista investigativo Jan Kuciak e sua noiva, que apareceram baleados.

Esse crime gerou uma onda de protestos contra o governo, já que Kuciak denunciou vínculos entre a máfia italiana e o governo de Fico em seu último artigo, publicado de forma póstuma.

Nas eleições de 2020, uma coalizão anticorrupção chegou ao poder, mas Fico permaneceu nos bastidores, mantendo seu assento.

O político sempre minimizou os rótulos de "populista" ou "demagogo" atribuídos por seus críticos e se refugiou em seu provérbio favorito: "a paciência sempre traz rosas vermelhas".

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