Nas últimas semanas, a Rússia prendeu vários generais e oficiais para reestruturar o quadro superior das Forças Armadas, questionado por elevados níveis de corrupção e ineficiência, no momento em que as tropas de Moscou buscam dar um novo impulso à ofensiva na Ucrânia. 

A detenção mais recente é a do general Vadim Shamarin, subchefe do Estado-Maior para as Comunicações, cuja prisão foi ordenada na quarta-feira (22) por um tribunal militar, por ele ter “aceitado um suborno particularmente importante”. 

Este oficial de alta patente encarregado das comunicações, área em que as forças russas tiveram problemas significativos no início da invasão à Ucrânia, segundo analistas, corre o risco de ser condenado a uma pena de até 15 anos de prisão. 

As detenções se multiplicaram no Ministério da Defesa e nos escalões superiores do Exército desde o final de abril, mas o Kremlin negou que haja uma campanha de perseguição em curso e garantiu se tratar, nesta ocasião, de uma típica operação anticorrupção. 

“A luta contra a corrupção é um trabalho contínuo, não é uma campanha” de expulsões, garantiu à imprensa o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov. 

Antes de Shamarin, o vice-ministro da Defesa russo, Timur Ivanov, e Yuri Kuznetsov, chefe de recursos humanos do ministério, foram presos por corrupção. 

Outro general, Ivan Popov, foi recentemente preso por “fraude”. Este militar, antigo comandante do 58º exército destacado na Ucrânia, tinha sido destituído em julho passado por ter, segundo ele, revelado as dificuldades enfrentadas pelas tropas russas no front. 

Ao mesmo tempo, esta limpeza nos escalões superiores do Exército russo promoveu a chegada de tecnocratas ao seio da máquina de guerra do Kremlin. O ministro da Defesa de longa data de Vladimir Putin, Sergei Shoigu, foi substituído em meados de Maio por um economista sem experiência militar, Andrei Belousov.

- "Corrupção flagrante" -

Para o especialista militar russo Alexander Khramchikhin, as autoridades sabem “há muito tempo” que o orçamento da Defesa era usado de forma ineficiente, mas em tempos de guerra, esta realidade “tornou-se demasiadamente óbvia para fechar os olhos”. Ainda mais levando-se em conta que a Rússia, alvo de sanções ocidentais, reorientou a sua economia para a indústria bélica, com um aumento de 70% no orçamento federal para a Defesa previsto em 2024. Para evitar agitação, o Kremlin esperou pela remodelação do gabinete após a reeleição de Vladimir Putin para um quinto mandato, antes de lançar sua "caça às bruxas". “Em tempos de guerra, o dinheiro deve ser gasto corretamente. 

Daí a nomeação de Belousov: ele tem que garantir que tudo é feito corretamente e que o dinheiro não é desperdiçado (…) O tempo dirá se ele conseguiu”, aponta o analista. 

A corrupção no topo do Cxército foi uma das principais críticas do chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, que instigou uma rebelião frustrada em junho de 2023 e morreu dois meses depois em um acidente de avião em circunstâncias que permanecem sem esclarecimentos. 

Ainda assim, os dois inimigos jurados de Prigozhin não foram “expurgados”: o antigo ministro da Defesa, Sergei Shoigu, foi nomeado secretário do Conselho de Segurança russo e o Chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, permanece no cargo. 

O futuro de outro general, Sergei Surovikin, altamente respeitado pelas tropas, mas que caiu em desgraça após a revolta de Wagner, continua incerto. 

Surovikin foi visto em público pela última vez em setembro de 2023, durante uma visita à Argélia. 

“A situação (no Exército) é grave e a corrupção é flagrante”, disse um importante analista militar russo que pediu anonimato. 

Na sua opinião, Vladimir Putin está consciente de que a guerra de desgaste contra a Ucrânia, que já ocorre há mais de dois anos, não pode durar para sempre e se vê obrigado a "tomar medidas radicais", "mudar os homens da retaguarda", onde "há problemas". 

O objetivo é “obter resultados” na linha de frente, antes que o Exército ucraniano recupere forças com a chegada de novas armas ocidentais e a mobilização de novos soldados.

“O mais importante para o Kremlin é vencer a guerra, não derrotar a corrupção”, afirma.

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