A Colômbia "não concordaria" com o fechamento da passagem fronteiriça na selva de Darién, na fronteira com o Panamá, como foi proposto durante a campanha pelo presidente eleito daquele país, José Raúl Mulino, disse o novo chanceler colombiano neste sábado (25) à AFP.

"É uma conversa que deve continuar, mas a Colômbia obviamente não concordaria com o fechamento de fronteiras e menos ainda, obviamente, da fronteira do Darién porque vemos que, caso contrário, temos que oferecer saídas mais humanitárias para esta população que cruza a região", afirmou o ministro colombiano das Relações Exteriores, Luis Gilberto Murillo, durante entrevista em Bogotá. 

O "fechamento" da perigosa rota que liga os dois países foi uma das principais promessas de campanha de Mulino, eleito presidente do Panamá em 5 de maio.

O ministro acrescentou que o governo do presidente colombiano, Gustavo Petro, busca concretizar uma reunião com Mulino antes de sua posse, em 1º de julho, para discutir diferentes temas, "tendo como eixo central os fluxos migratórios".

"As pessoas vão se movimentar e o que temos que garantir é que essa mobilidade seja segura, que seja uma mobilidade regular e que as pessoas não caiam nas mãos" de criminosos que se aproveitam delas durante a caminhada.

Em 2023, ao menos 520.000 pessoas, várias delas crianças, cruzaram o Darién, expondo-se aos múltiplos riscos da selva, como animais selvagens, rios caudalosos e quadrilhas que assaltam, estupram e matam os migrantes.

- "Calor da campanha" -

Em 16 de maio, após a eleição de Mulino, seu futuro ministro da Segurança, Frank Ábrego, assegurou que o novo governo não pensa erguer um muro na fronteira entre o Panamá e a Colômbia, mas que vai deportar os caminhantes que cruzarem para seu país.

O governo colombiano não tinha informado uma posição oficial sobre estas declarações. Murillo acrescentou que confia em que as promessas do presidente eleito panamenho "ocorreram no calor da campanha" eleitoral. 

"Acreditamos e estamos quase certos de que não ocorreria uma situação desta natureza porque temos acordos no âmbito da declaração de Los Angeles" sobre migração "que não resultam nisso", complementou.

A maioria dos migrantes que passa pelo Darién é venezuelana, além de haitianos, equatorianos e colombianos que têm como destino os Estados Unidos. Também há asiáticos, sobretudo chineses, e africanos.

Murillo assumiu o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia na semana passada, após a inabilitação de seu antecessor, Álvaro Leyva. Há semanas, ele vinha atuando como ministro encarregado da pasta e embaixador nos Estados Unidos, cargo que deixará de ocupar.

- Plano para o Haiti -

Petro encarregou Murillo de desenhar uma estratégia para tirar o Haiti da grave crise política e de segurança em que está mergulhado após a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, em março, revelou o chanceler neste sábado.

"O presidente Petro nos deu instrução" de "poder desenhar um plano que permita várias coisas": 

Primeiro, "oferecemos um mecanismo" para "que possamos treinar (na Colômbia) integrantes da polícia haitiana" na luta contra as gangues.

Além disso, "gostaríamos de entrar rapidamente para fornecer ajuda humanitária", afirmou.

Segundo Murillo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um aliado da Colômbia nesta iniciativa e Petro tentará convencer outros países-membros da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) para se somarem à iniciativa.

- Embaixada em Ramallah -

Com o objetivo de ter um papel de destaque a favor dos "povos que estiveram sob opressão", a Colômbia se tornou um dos principais aliados dos palestinos no mundo após o início da guerra entre o grupo islamista Hamas e Israel, em outubro de 2023.

Petro condena energicamente as ações do exército israelense na Faixa de Gaza e rompeu relações com Israel, o que tornou a Colômbia o maior país a assumir esta posição, depois de Belize e Bolívia.

Recentemente, o governo colombiano confirmou que vai abrir uma embaixada na cidade palestina de Ramallah, na Cisjordânia, uma missão na qual "já tem uma equipe trabalhando", segundo Murillo. 

"A Colômbia está mostrando o caminho", concluiu o novo chefe da diplomacia colombiana.

das/ag/mvv

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