O procurador-geral do Peru, Juan Carlos Villena, denunciou, nesta segunda-feira (27), perante o Congresso, a presidente Dina Boluarte pelo suposto crime de suborno no âmbito do escândalo de relógios de luxo conhecido como Rolexgate.
"A Procuradoria da Nação, através da Área de Enriquecimento Ilícito e Denúncias Constitucionais, apresentou uma denúncia constitucional contra Dina Boluarte, como suposta autora do crime de suborno passivo indevido, em detrimento do Estado", indicou o Ministério Público em um comunicado na rede social X.
A denúncia, entregue esta tarde ao Congresso, é o passo prévio a um pré-julgamento político, que deverá ser posteriormente avaliado pelo Judiciário quando o mandato de Boluarte terminar.
Para o MP, os fatos que fundamentam a denúncia referem-se "a três relógios da marca Rolex que a presidente teria recebido, na qualidade de doação do governador regional de Ayacucho, Wilfredo Oscorima, [junto com] um par de brincos de ouro com diamantes e uma pulseira Bangle com 94 brilhantes".
A presidente é investigada no Rolexgate desde março por "suborno passivo indevido", um crime que implica receber benefícios indevidos por parte de funcionários. Também é averiguada por suposto enriquecimento ilícito e omissão de declarar bens em documentos.
No Parlamento, controlado por bancadas de direita ligadas a Boluarte, a denúncia deve ser avaliada por uma subcomissão de acusações constitucionais antes de ser debatida pelo plenário em um trâmite sem prazo determinado.
Boluarte, que completa 62 anos nesta sexta-feira, só pode ser levada a julgamento ao término de seu mandato, em julho de 2026, conforme estabelece a constituição.
Com seu caso, são seis os presidentes envolvidos em episódios de corrupção neste século. Em apenas oito anos, o Peru teve seis presidentes, em meio à pior onda de instabilidade de sua história moderna.
- Rolexgate, uma dor de cabeça -
Esta denúncia é a segunda apresentada pelo MP contra Boluarte depois que, em novembro, o órgão a acusou pelo suposto crime de homicídio, como responsável pela repressão aos protestos que deixaram mais de 50 mortos após sua chegada ao poder em 7 de dezembro de 2022.
Em seu primeiro depoimento ao MP, Boluarte indicou que os Rolex lhe foram emprestados por seu amigo, o governador regional de Ayacucho.
"Devo reconhecer que foi um erro aceitar, na qualidade de empréstimo, esses relógios de meu amigo Wilfredo Oscorima", declarou Boluarte.
As indagações pelo "suposto cometimento do crime de enriquecimento ilícito e omissão de registrar declaração em documentos" começaram em 18 de março, após uma denúncia do meio digital jornalístico La Encerrona.
"Entrei no Palácio de Governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano", disse Boluarte, a primeira presidente mulher do Peru, em abril.
A reportagem revelou que ela usou vários relógios Rolex em atividades oficiais desde que assumiu como vice-presidente do governo do ex-mandatário esquerdista Pedro Castillo e ministra de Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021.
- Governo fraco e impopular -
Boluarte, que tem 88% de desaprovação segundo uma pesquisa recente do instituto Ipsos, carece de bancada própria e partido, por isso o apoio das forças conservadoras é essencial para que consiga terminar seu mandato em julho de 2026.
"Vamos seguir caminhando até 28 de julho de 2026! Porque aqui o povo escolheu uma chapa presidencial e, conforme a Constituição, isso deve ser respeitado", disse ela na semana passada em um ato público, descartando uma renúncia por conta das investigações.
Neste fim de semana, o governo denunciou que Boluarte sofre "assédio do Ministério Público" por causa das investigações contra ela. Em abril, o governo dissolveu de forma surpreendente a unidade policial que apoiava a equipe de procuradores anticorrupção que, em março, realizou buscas no domicílio de Boluarte e no gabinete presidencial, em busca das joias.
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