A Convenção de Istambul, o primeiro tratado internacional sobre a luta contra a violência contra as mulheres, celebra este ano o seu décimo aniversário desde que entrou em vigor, mas para o Conselho da Europa, seu promotor, ainda há um longo caminho a percorrer.
Maria-Andriani Kostopoulou, que preside o mecanismo de monitoramento (Grevio) desta convenção do Conselho da Europa explica em entrevista à AFP o impacto deste texto histórico.
Desde que entrou em vigor em 1º de agosto de 2014, 39 países a assinaram — incluindo a Turquia, que a abandonou posteriormente —, bem como a União Europeia.
PERGUNTA: O que o Tratado de Istambul cobre?
RESPOSTA: "O seu principal objetivo é combater a violência contra as mulheres, incluindo a doméstica. É um tratado de origem europeia, mas aberto à ratificação por todos os países. Fornece um modelo para políticas públicas e adota uma abordagem holística.
É articulado em quatro eixos: a prevenção da violência, a proteção das vítimas, a acusação dos autores e as políticas coordenadas. É realmente uma boa ferramenta, a mais progressista do mundo.
A Convenção envia uma mensagem forte de que a violência não pode permanecer enterrada sob um manto de silêncio. A violência não é um assunto privado, diz respeito a todos e todas nós".
P: O que muda desde a ratificação?
R: "Em relação ao direito penal, muitos países melhoraram suas leis para alinhar as definições dos crimes com a Convenção.
Alguns países criaram unidades policiais especializadas em violência doméstica, como a Bósnia-Herzegovina, Chipre, Islândia, Irlanda e Grécia, ou melhoraram os serviços especializados para as mulheres vítimas de violência".
P: O que falta melhorar?
R: "Ainda existem algumas lacunas no recolhimento de dados pelos serviços administrativos e judiciais. Estes dados vão nos permitir compreender o fenômeno, ver como combater e decidir contra que forma de violência investir mais".
P: Em 2021, a Turquia anunciou que estava saindo da Convenção, por considerar que ela incentiva a homossexualidade e ameaça a estrutura familiar tradicional, o que você acha?
R: "A Convenção não é um texto imposto. Os países discutiram, debateram, assinaram e adotaram por consenso. Portanto, é uma escolha. Em relação às críticas, a única ameaça à estrutura familiar é a violência. Nada mais.
A saída da Turquia é uma verdadeira lástima, sobretudo para as mulheres que vivem lá, porque elimina uma ferramenta para protegê-las de uma forma verdadeiramente eficaz.
Mas prefiro me concentrar nos amigos da Convenção, que são cada vez mais numerosos. Recentemente, a Letônia e a União Europeia aderiram. O fato de uma organização internacional aderir a um instrumento do Conselho da Europa envia uma mensagem muito forte. O México e o Cazaquistão também manifestaram interesse".
P: A Convenção precisa ser atualizada?
R: "O acesso à tecnologia e a própria tecnologia já evoluíram muito e, infelizmente, a violência online também. Temos uma recomendação sobre este tema no qual tentamos explicar aos países como também aplicar as disposições da Convenção na esfera digital.
Durante a avaliação de cada país, perguntamos que medidas foram tomadas para prevenir este tipo de violência, para proporcionar às vítimas o acesso à Justiça. O que evoluiu é que os países incorporaram o aspecto digital nos seus códigos penais. Agora resta saber como as coisas vão em termos de processos".
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